O ENSINO DE
HISTÓRIA E O “NOVO” PROTAGONISMO INDÍGENA
Nos últimos anos a
temática indígena ampliou seu escopo documental e o uso de novas metodologias
de análise tem contribuído consideravelmente para uma 'nova' história indígena.
Escrito não apenas por pesquisadores simpatizantes das questões que envolvem
esse universo, mas sob o ponto de vista de seus protagonistas. Mesmo que haja
um esforço contínuo na aplicação da Lei 11645/2008, sua efetividade ainda
ocorre de maneira muito tímida nos espaços escolares. Permanece em muitos casos
manifestações discriminatórias, excludentes e conhecimentos culturais
descontextualizados, sendo algumas vezes incoerentes com a história desses
povos na sociedade brasileira. Nesse sentido, é chegado o momento de ampliar a
participação das comunidades indígenas nas instituições escolares para
construir um diálogo sobre os “saberes
indígenas”. Até pouco tempo esses saberes eram restritos ao grupo étnico e
agora surge como um importante mecanismo de disseminação da sua visão de mundo,
verbalizando os motivos que justificam suas trajetórias de resistência e as
estratégias políticas de lutas na atualidade. Situações que podem ser apreciadas
nas publicações de livros, trabalhos de conclusão de curso, dissertações e
teses acadêmicas. Diante disso, o debate que propomos nesse texto é levantar
alguns apontamentos sobre temas que tem sido objeto de pesquisa desses
indivíduos no sentido de construir estratégias de aprendizado que permitam aos
professores de história da educação básica ampliarem seu conhecimento sobre os
povos indígenas no Brasil.
Um “novo”
protagonismo indígena?
Ao aproximar-se os 500 anos de “descobrimento” do Brasil
várias instituições da sociedade brasileira, especialmente na esfera acadêmica,
organizaram seminários, simpósios e encontros para debaterem e refletirem sobre
os cinco séculos da chegada dos portugueses no litoral brasileiro. Entre os
principais assuntos das comemorações a temática indígena ocupou boa parte
desses encontros com representantes indígenas e especialistas no assunto. Se
para uma parcela da população os “quinhentos” tinha um tom festivo, para os
povos indígenas era o momento de revisitarem o passado, avaliarem os ganhos e
perdas no presente e projetarem lutas políticas junto ao estado brasileiro,
especialmente, para suas demandas emergenciais como a demarcação de seus
territórios tradicionais, políticas públicas na saúde e uma educação escolar
indígena comprometida com os saberes tradicionais. Como resultado desses
momentos de reflexão e debate produziram-se documentários áudio visuais e um
conjunto de livros foram publicados para servirem como um instrumento de luta
desses povos, mas também para serem utilizados como materiais didáticos nas
instituições de ensino do país. Entre essas publicações uma em especial chama
atenção por trazer temas que envolvem o universo indígena o livro 'A outra
margem do Ocidente', uma coletânea de
textos com ensaios de pesquisadores e de alguns líderes indígenas. (Novaes,
1999)
Se de algum modo naquela ocasião das comemorações dos
quinhentos era possível projetar algo para os próximos anos sobre a temática
indígena, podemos atribuir um tom quase profético no artigo do historiador John
Monteiro, escrito para a compor a obra. Na ocasião Monteiro alertava para o
surgimento de um novo modelo de escrita para esses povos “[...] a história
indígena dos índios tem que lançar mão de categorias analíticas e de imagens e
representações que são produtos do mundo dos brancos. ” (Monteiro, 1999, p.
244)
Passaram-se quase duas décadas desde a publicação deste
texto e as palavras de Monteiro parecem ganhar um espaço maior na história
desses povos na contemporaneidade. Esse aumento que tem consolidado o interesse
pela temática indígena se refere com base no aprimoramento de novas
metodologias de análise, em grande parte, pelo diálogo cada vez mais sistêmico
com outros campos de conhecimento como a Antropologia e a Arqueologia. Os fatos
históricos que envolvem a temática indígena por toda a historiografia
brasileira ganha novos sentidos e novas interpretações graças a um crescente
interesse dos pesquisadores em apresentá-los não como vítimas de um processo de
ocupação e desmantelamento da sua organização social, mas como protagonistas de
sua história, decidindo e organizando estratégias de sobrevivência em contextos
diversos, algumas vezes participando como aliados e em alguns casos do lado
oposto. De modo que os temas de pesquisas se tornam infinitos somados a
presença mais expressiva de pesquisadores indígenas nos cursos de graduação e
pós-graduação nas universidades brasileiras, contribuindo consideravelmente
para a compreensão da história desses povos a partir de sua “história” e visão
de mundo.
No entanto, a amplitude dos conhecimentos indígenas não se
dá apenas na esfera acadêmica. Há um crescimento considerável de livros
escritos e publicados por lideranças indígenas políticas ou religiosas. Com um
tom de alerta esses sujeitos verbalizam seus conhecimentos na intenção
mobilizar a sociedade para um diálogo mais comprometido com o futuro não apenas
de seu grupo, mas para toda sociedade. Entre os textos com esse teor de alerta
é o livro 'A queda do céu: palavras de um xamã yanomami’ de autoria de Davi
Kopenawa em parceria com Bruce Albert. (Kopenawa; Albert, 2015) Longe de ser um
livro sobre teoria antropológica a obra em questão é antes de tudo um apelo
para a sociedade não indígena, para o modo de vida dos brancos, conforme o
prefaciador da obra Eduardo Viveiros de Castro:
“Este livro é um livro sobre o Brasil, sobre um Brasil – decerto, ele é ostensivamente ‘sobre’ a trajetória existencial de Davi Kopenawa, em que o pensador e ativista político yanomami, falando a um antropólogo francês, discorre sobre a cultura ancestral e a história recente de seu povo( situado tanto em terras venezuelanas quanto em brasileiras), explica a origem mítica e a dinâmica invisível do mundo, além de descrever as características monstruosas da civilização ocidental como um todo e de prever um futuro funesto para o planeta- mas, de um modo muito especial é um livro sobre nós, dirigido a nós, os brasileiros que não se consideram índios.”(Viveiros de Castro, p.12)
O livro compreende um conjunto de temas, falas e narrativas
míticas do xamã Davi Kopenawa registrados pelo etnógrafo Bruce Albert ao longo
de muitos anos na língua yanomami. De acordo com José Antonio Kelly, foi no
final dos anos 80 que Kopenawa procurou Albert para que ele fosse o “tradutor”
do seu discurso cosmo político exatamente no contexto dos projetos
desenvolvimentistas em seus territórios tradicionais. Naquela ocasião iniciavam
os trabalhos de construção da perimetral norte e a invasão dos garimpeiros em
suas terras. (Kelly, 2013)
Nesse contexto de intenso movimento de apropriação indevida
do solo e dos recursos naturais da floresta, Kopenawa polariza uma incansável
luta pela demarcação de seus territórios e pela preservação de seu espaço
sociopolítico, espaço este de extrema importância e lócus de sua organização social. Alguns grupos indígenas que haviam
permanecido distante das frentes de expansão tiveram que assumir a identidade
atribuída pelo estado como sendo “índios”
e seus territórios “terras indígenas”.
Assim, como afirma Bruce Albert, os indígenas tiveram que reorientar suas
práticas como condição política de resistência e permanência de sua
especificidade social. (Albert, 1995)
O texto de autoria de Davi Kopenawa é um exemplo
interessante das inúmeras estratégias do movimento indígena contribuído para um
revisionismo na historiografia brasileira sobre a temática indígena
demonstrando o modo como essas populações interpretaram e reagiram aos projetos
de integração à sociedade envolvente. Nessa perspectiva Maria Regina Celestino
de Almeida é enfática:
“[...] os povos indígenas em diferentes tempos e espaços começaram a aparecer como agentes sociais cujas ações também são consideradas importantes para explicar os processos históricos por eles vividos. Essas novas interpretações permitem outra compreensão sobre suas histórias e, de forma mais ampla, sobre a própria história do Brasil. ” (Almeida, 2010)
A presença cada vez mais expressiva de índios nas
universidades brasileiras tem sido um espaço importante para que esses sujeitos
apresentem o seu ponto de vista sobre os processos históricos a que foram
submetidos no passado por meio dos seus trabalhos de conclusão de curso (TCC),
dissertações e teses acadêmicas. Não temos a pretensão de fazer um levantamento
dos trabalhos defendidos pelos acadêmicos indígenas pelo Brasil, embora ele
seja de extrema importância para avaliar as opções de pesquisa de cada um.
Nesse sentido, apresentaremos alguns pontos do TCC do Guarani Marcos Moreira,
ex-acadêmico do curso de 'Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata
Atlântica Guarani, Kaingang e Xokleng' oferecido pela Universidade Federal de
Santa Catarina, em sua primeira edição em 2009.
Com o tema “Visão
Guarani sobre o Tekoa”, Moreira discute em
seu trabalho sobre uma das principais demandas do universo Guarani: o seu
território tradicional. Como fonte de pesquisa Moreira dialoga com os líderes
espirituais e os anciões da sua comunidade, personagens importantes que
desempenham a função de “guardiões” do conhecimento e do modo de vida do seu
povo, indivíduos essenciais e responsáveis pela transmissão dos seus
conhecimentos mediados pela tradição oral.
Ao tratar de questões como tradição oral estamos fazendo
referência a uma das dimensões da pesquisa histórica, o uso
teórico-metodológico da história oral. Introduzida na década de 70 no Brasil
foi somente nos anos 90 que a história oral ampliou seu espaço entre os
pesquisadores brasileiros percorrendo vários caminhos, desde a organização de
seminários com a participação de pesquisadores de outros países, publicação de
pesquisas com as orientações da história oral e, consequentemente, a
incorporação dessa metodologia e suas reflexões teóricas nos programas de
pós-graduação.(Amado; Ferreira, 2006,
p.9)
Mas não foi somente aqui no Brasil que houve pouca
receptividade da história oral conforme apontou Alessandro Portelli. Em um dos
seus textos fundadores resultado de uma conferência realizada em terras
brasileiras, Portelli manifestou o pouco interesse dos historiadores italianos
em relação a metodologia da história oral. Esse desinteresse se baseava numa
certa confusão conceitual sobre o que é documento histórico, como se o
documento escrito caísse em desuso e fosse substituída apenas pelo relato
oral.(Portelli, 1997)
A história oral não tem essa pretensão de sombrear outras
fontes de pesquisa. Sua proposta permite ao pesquisador ampliar seu escopo
documental. Ou seja, a pesquisa histórica amplia seu horizonte analítico sobre
determinado contexto se ela puder incorporar o relato oral, a memória dos
sujeitos envolvidos naqueles processos históricos permitindo em muitos casos
dar visibilidade para grupos sociais diversos. Se aprofundarmos o debate sobre
as origens das fontes históricas, dos lugares e das instituições em que elas
são produzidas seríamos facilmente convencidos de que alguns documentos
escritos são na verdade a materialização de um relato oral produzido de outra
forma que não o uso de áudio e vídeo, ferramentas essenciais na prática
cotidiana do pesquisador que usa essa metodologia.
Dito isso, vale a pena acrescentar que a prática da história
oral tem uma predisposição para relato de sujeitos marginalizados, silenciados
ou daqueles grupos sociais onde existem a ausência total da escrita e seus
conhecimentos são repassados de geração para geração via tradição oral. Essa é
uma questão importante que devemos levar em consideração para os povos
indígenas do Brasil. Retomando algumas questões do início do texto e sobre o
“novo” protagonismo indígena é fácil perceber o quanto o trabalho com a memória
desses povos, dos xamãs, líderes e anciões são importantes nas lutas políticas
na atualidade quando os conhecimentos próprios desses sujeitos são
materializados e socializados para um número maior de pessoas. Sobre esse
aspecto é importante retomar as palavras de Davi Kopenawa, onde ele reafirma a
necessidade de que suas palavras são de “Omama” (criador do homem) e dos
“xapiri”(espíritos da floresta) sejam divulgadas para os brancos:
“Se quiser pegar as minhas palavras, não as destrua. São as palavras de Omama e dos Xapiri. Desenhe-as primeiro em peles de imagens, depois olhe sempre para elas. Você vai pensar: “Haixopë! É essa mesma a história dos espíritos! ”. E, mais tarde dirá aos seus filhos: “Estas palavras escritas são as de um yanomami, que há muito tempo me contou como ele virou espírito e de que modo aprendeu a falar para defender a sua floresta”. Depois, quando essas fitas em que a sombra das minhas palavras está presa ficarem imprestáveis, não jogue fora. Você só vai poder queimá-las quando forem muito velhas e minhas falas tiverem já há muito tempo sido tornadas desenhos que os brancos podem olhar”.(Kopenawa; Albert, 2015, p. 64)
O que antes era conhecimento restrito ao grupo indígena
passa a ser socializado para a sociedade não indígena com o propósito de
estabelecer um diálogo mais sério e comprometido com o futuro da humanidade.
Até recentemente, as demandas dos povos indígenas eram direcionadas para a
sociedade de maneira geral mediados pela figura política do cacique e os
conhecimentos tradicionais eram questões próprias de cada grupo indígena e
estavam sob a guarda da figura religiosa e dos anciões. O texto de Kopenawa
parece inaugurar uma nova fase das demandas dos povos indígenas, especialmente
quando se trata da demarcação de territórios para sua sobrevivência física e
cultural.
Muitos povos grupos indígenas do Brasil ainda lutam pela
demarcação de seus territórios em pleno século XXI, quase 30 anos após
Constituição brasileira reconhecer o direito originário sobre as terras que ocupam.
Isso significa que o direito dos índios sobre seu território antecede até mesmo
a lei. De todo modo quando os povos indígenas não adquirem esse direito ficavam
extremamente vulneráveis pois, “destituir um povo de seu território equivale a
condená-lo a morrer, ainda que fiquem mantidos alguns indivíduos”, conclui
Carlos Frederico Marés. (Marés, 1999, p. 60)
É nessa perspectiva que o Guarani Marcos Moreira define seu
objeto de pesquisa como trabalho de conclusão de curso ao explicitar a visão
Guarani sobre o seu território (Tekoa), por meio da oralidade dos anciões
(Moreira, 2015). Na sua narrativa encontramos à principal justificativa do seu
desejo em escrever sobre o significado do território para os índios Guarani, a
luta pela demarcação da Terra Indígena(TI) de Itaty ou Morro dos Cavalos,
localizada no litoral de Santa Catarina.
Tudo indica que vivenciamos um momento de reelaboração das estratégias
indígenas sendo protagonistas de sua história com sua presença cada vez maior
nas universidades construindo a seu modo a “história dos seus antepassados”,
pois bem sabemos que o “[...] índio não fala na história (nos textos que são
tomados como documentos) do Brasil. Ele não fala mais é falado pelos
missionários, pelos cientistas, pelos políticos. (Orlandi, 2007, p. 57)
Marcos Moreira faz um breve histórico do processo de
demarcação dessa TI Itaty e segundo suas conclusões a mesma ainda não foi
homologada pela ausência total de vontade política dos governantes, pois todas
as etapas para sua regularização foram cumpridas rigorosamente conforme às
exigências do Ministério da Justiça. O primeiro laudo antropológico realizado
foi feito em 1993 e por mudanças nas regras de demarcação esse processo teve
que se adaptar às novas exigências. Entretanto, quando o mesmo laudo foi
apresentado para a comunidade indígena Guarani, ele foi recusado por não
contemplar em seus limites às terras tradicionais. Como não houve acordo entre
a Funai e os líderes indígenas outra portaria foi publicada, criando uma nova
comissão para refazer o processo de demarcação da TI Itaty de maneira que
contemplasse o território de origem. Finalizado essa etapa e concluído no ano
de 2002, o resultado desse levantamento histórico-antropológico atestando o
domínio Guarani sobre esse espaço só foi efetivamente publicado no diário
oficial da união em 2003.(Moreira, 2015) Desde então, a comunidade aguarda a
homologação pelo Ministério da Justiça para que a mesma seja efetivamente terra
indígena dos Guarani conforme os dispositivos legais do governo brasileiro.
Diante dessa morosidade institucional e como membro da
comunidade indígena exercendo a função de professor da escola indígena Whera Tupã- Poty Djá, Marcos Moreira
optou por fazer sua pesquisa de trabalho de conclusão de curso sobre o
significado da terra para os Guarani. Essa decisão foi tomada após longas
conversas com os líderes da comunidade e com seus anciões na casa de reza.
Neste ponto, temos uma aproximação da fala do Marcos Moreira com Davi Kopenawa
ao trazer para o público não indígena o recado dos anciões sobre o entendimento
do seu território(Tekoa). Para ele é fundamental o registro e a escrita
da história do seu povo transmitida oralmente de geração em geração. Os líderes
espirituais e os anciões precisam verbalizar/expor a visão guarani sobre o Nhandereko(Nosso sistema).( Moreira,
2015)
Para Marcos Moreira, o território Guarani significa um
“espaço, tempo, experiência, terra, animais, plantas medicinais, deuses e da
crença, ou melhor o nosso yvy rupa
(território ou berço da terra. Tudo junto.)”(Moreira, 2015) Quando o autor
traduz esse universo indígena do povo Guarani ele está resumindo uma visão de
mundo muito mais complexa do que se imagina. Outro ponto do qual é extremamente
importante em trabalhos como este em que se expõe um universo restrito ao grupo
do qual se faz parte é o cuidado que devemos ter em interpretar as informações
verbalizadas pelo informante, nesse caso específico, os anciões. Há um processo
de tradução exercido pela pessoa de Marcos Moreira contido na sua escrita da
qual ele é apenas o portador, pois de acordo com Michel Pollak “A memória em
parte é herdade, não se refere apenas à vida física da pessoa”.(Pollak, 1992,
p. 204) De certa forma, é bem isso que ocorre com as populações indígenas
dentro de sua organização sócio cosmológica da qual o indivíduo recebe os
ensinamentos e o conhecimento do seu grupo durante toda sua vida dando-lhes uma
coesão social não apenas para o convívio com os outros membros mas com o meio
ambiente e todos os recursos naturais que ela lhes proporciona.
Nesse sentido é compreensível que os povos indígenas lutem
insistentemente para que determinado território seja de sua posse permanente,
pois de acordo com Marcos Moreira esse território é o lugar escolhido pela
divindade Guarani, onde nascem plantas sagradas que formam o Tekoa e onde acende-se o fogo sagrado.
Esse é o espaço de vida do povo Guarani. O lugar onde atribuem como sendo a
terra sem males(Yvydju, yvy Marae’y),
onde todo Guarani deve estar para cultuar Nhamderu
e Nhamdexy. É nesse lugar também onde
Nhamderu os encaminham para o “lugar
de onde vieram”.(Moreira, 2015) É nesse território que o ciclo de vida Guarani
é vivenciado, um lugar sagrado onde natureza, humanidade se entrelaçam.
O ensino de história indígena
Bem sabemos das falhas e ausências da história dos povos
indígenas nos livros didáticos utilizados nas instituições escolares sejam elas
públicas ou privadas. Mais grave ainda é quando os professores se sentem
incapacitados para desenvolverem a temática indígena com os seus alunos. Em
parte, essa “ausência formativa” na educação básica é originária da sua má
formação acadêmica sobre o tema, afetando com muito prejuízo o aprendizado dos
estudantes. De modo, que em alguns casos acabam reproduzindo aspectos
discriminatórios e preconceituoso em relação aos povos indígenas do Brasil. Na
maioria das vezes prevalece o estereótipo do índio seminu, vestido com adornos
e habitantes da floresta, num passado longínquo. Essa imagem descontextualizada
não deve ser extensiva e generalizada a todos os povos indígenas do Brasil. O
modo de vida desses grupos é bastante dinâmico e ao mesmo tempo em que sofre
interferências do mundo dos não indígenas também influencia na vida destes, embora
grande parte da população não reconheça que reproduz em seu dia a dia aspectos
característicos da cultura indígena.
Nas últimas décadas
o estudo sobre os povos indígenas no Brasil tem avançado consideravelmente,
mas, ainda precisamos derrubar algumas barreiras no ensino superior. Parte das
instituições de ensino superior ainda não efetivaram na grade curricular dos
cursos de licenciatura à disciplina de História Indígena. De acordo com
levantamento realizado em 2012, a pedido do Ministério da Educação, pela
consultora Beatriz Carretta Corrêa da Silva:
“Algumas instituições alegam falta de clareza do texto da lei, que não especifica a obrigatoriedade do ensino de tais conteúdos nos cursos de Graduação, atendo-se apenas à educação básica. Outras questionam a falta de comunicação com o movimento indígena ou de discussão com as comunidades indígenas previamente à promulgação da lei, o que seria uma espécie de pecado original do texto legal, que não cria, no que tange à temática indígena, respaldo das comunidades. ” (Silva, 2012)
O relatório
apresenta outras tantas questões sobre a aplicabilidade da lei 11645/2008. No
entanto, sobre o aspecto apresentado acima temos a dizer que as instituições de
ensino superior têm a responsabilidade primordial de que a lei seja cumprida,
pois se os alunos da educação básica precisam conhecer a história dos povos
indígenas é óbvio que as universidades deverão incluir nos cursos de
licenciatura disciplinas que atendam essa demanda colocada pela lei. Ou seja,
deverão preparar seus futuros professores para que estes tenham condições de
desenvolver tal conteúdo com seus alunos. Outra justificativa frágil do
relatório afirma que os diversos grupos indígenas do Brasil não participaram da
elaboração do texto da lei. Ora, não é de hoje que o movimento indígena luta
para garantirem seus direitos, para que a sociedade os reconheça com sua
especificidade, com suas práticas culturais diferenciadas. A Lei 11645/2008 é
mais uma conquista das lutas políticas desses povos e afirmar que não houve
participação indígena é um erro grotesco. Um importante texto que faz uma
discussão sobre esse aspecto é o artigo de Clovis Antonio Brighenti sobre
“Movimento indígena no Brasil”. (Brighenti, 2015)
Se em 2012, o
relatório já apontava o pouco avanço do debate sobre a temática indígena, temos
a dizer que o cenário não se alterou muito. Em parte, porque as instituições de
ensino superior alegam não ter professores com formação para desenvolverem o
tema entre seus acadêmicos e muito lentamente, os cursos de licenciatura estão
reelaborando seus projetos políticos pedagógicos e incorporando a
obrigatoriedade da disciplina de História Indígena, Etno-história e Etnologia.
Entretanto, precisamos de estudos que nos apresentem dados atuais do cenário
atual sobre a aplicabilidade da lei no ensino superior.
Acaso a formação
acadêmica tenha deixado de lado esse debate outras estratégias podem contribuir
para derrubar alguns estereótipos atribuídos aos indígenas, como se aproximar
das comunidades indígenas e criar um canal de diálogo entre as instituições
escolares com encontros educativos e trocas de experiências. Entretanto é
preciso um esforço dobrado para que esse diálogo aconteça, é preciso encarar e
afastar o “medo do diferente”. Eis um ponto fundamental da prática docente do
professor de história, que dada as condições de sua formação tem minimamente um
debate mais apurado sobre a cultura, identidade, alteridade e diversidade
cultural. Temas que contribuem muito para estabelecer um novo debate sobre a
história desses povos.
Retomando alguns
pontos desse texto, temos a convicção que às comunidades indígenas estão
abertas para um diálogo sério e comprometido com os vários setores da sociedade
brasileira. É preciso avançar, derrubar barreiras e entender que esses povos
não estão distantes das nossas necessidades materiais e desejos humanos. Eles
não estão no passado e a cada dia estão mais presentes reivindicando e lutando
por seus direitos garantidos na Constituição de 1988. Mas, se ainda, não temos
condições de sentar frente a frente e dialogar com esses povos, os professores
da educação básica, especialmente os licenciados em história poderão/deverão
buscar algumas saídas para problematizar o ensino da história indígena com
qualidade incorporando à sua prática docente materiais publicados pelos
indígenas conforme apontamos no texto. A cada ano novas vagas no ensino
superior e em programas de pós-graduação estão sendo ocupadas por eles, cujos
objetos de pesquisa dizem respeito ao seu modo de vida, sua organização social,
sua economia, sua cultura, autoridade política e religiosa, questões de gênero,
entre outros temas são problematizados sob olhar de seus protagonistas.
Esperamos que essa
breve reflexão possa despertar nos professores responsáveis pelo ensino de
história o desejo de conhecer mais sobre a história dos povos indígenas a
partir de seus próprios entendimentos dos processos sociais que foram
submetidos ao longo dos anos. Não temos respostas para tudo e nossa intenção
segue as palavras de Milton Santos:
“O que trago aqui é um ensaio. É muito mais um ensaio de método que algo terminado. Aliás, para que um professor dirigir-se a quem quer que seja com coisas já prontas? Uma aula é sempre um conjunto de questões, e não propriamente de respostas. A aula que quer ser uma resposta é algo quase desnecessário. A aula tem que ser um conjunto de perguntas as quais incompletamente o professor formula, e as quais os ouvintes tomam como um guia tanto para aceitar, como para, depois de aceitar, discutir e, mesmo recusar.” (Santos, 2007)
Referências
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Durat é docente da Universidade Federal da Fronteira Sul(UFFS), Membro do
Laboratório de História Indígena – Labhin/UFSC e do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e
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Boa noite professor Cristiano, me chamo Renata Carvalho e atualmente curso mestrado em História Ensino e Narrativas pela Universidade Estadual do Maranhão onde desenvolvo pesquisa acerca do uso do cinema como meio de trabalhar História e Cultura Indígena em sala de aula. Dito isto, gostaria de lhe perguntar qual sua opinião acerca do uso de filmes para o trabalho com o ensino da história indígena em sala e quais os problemas e limitações você apontaria acerca do mesmo?
ResponderExcluirRenata Carvalho Silva
Olá Renata, obrigado pela sua pergunta! Acredito que sua realidade não é muito diferente da minha região em que nossos professores de história se utilizam muito pouco deste recurso didático em suas aulas. Em alguns casos por conta do excesso de aulas imposto pelo estado aos professores da educação básica, não deixando espaço em suas atividades para discutir com qualidade o tema entre seus alunos. O desconhecimento por parte dos professores da temática indígena também contribui para essa marginalização do conteúdo. Entretanto, para aqueles que se colocam abertos para utilizar esse recurso é fundamental que o professor estude sobre o grupo étnico para que dessa forma tenha condições de explicar para seus alunos os “sentidos” que estão embricados nos rituais ou nas atividades indígenas que está sendo projetado. Obviamente, que vários trabalhos áudio-visuais atualmente trazem uma qualidade extraordinária de elementos que ajudam na compreensão da dinâmica social desses povos, inclusive com a participação deles na sua realização. A grande questão é em relação aos documentários realizados no passado onde se obtinha imagens fragmentadas e algumas descontextualizadas dificultando sua projeção para um público não simpatizante da temática indígena. Acredito que um modo de resolver essa questão é produzir trabalhos dialogando diretamente com as comunidades indígenas, não deixando margens para interpretações equivocadas acerca de seu modo de vida e interpretação de mundo. Afinal são eles que dominam inúmeros saberes dos quais ainda não temos ideia de seu alcance.
ExcluirMuito pertinente o texto, com reflexões necessárias e instigantes. A novo história indígena é um tema desafiador, que requer olhares apurados e pessoas com comprometimento na causa. Dito isto prof. Cristiano, pegunto-lhe como articular o tema nova história indígena sobre o prisma do cenário político atual, onde mesmo com o advento da CF/88 ainda presenciamos tantos descasos junto aos povos tradicionais?
ResponderExcluirEduardo Gomes da Silva Filho / Docente/UFRR
Olá profº. Eduardo, obrigado pela sua participação! Fico muito feliz em saber que outros docentes das mais variadas instituições de ensino superior se debruçam sobre a “nova história indígena”. Sabemos o quanto é difícil fazer esse debate no meio acadêmico. Infelizmente, a grande barreira para que os saberes indígenas sejam respeitados, ouvidso e apreendidos esteja nas universidades. O conhecimento adquirido por esses povos ao longo de milhares de anos é anulado para dar espaço aos conhecimentos científicos. Não se respeita e se quer, para algumas regiões, a universidade abre suas portas para dialogar com esses sujeitos. O livro de Kopenawa é um belo exemplo do alcance desses conhecimentos pelo tempo, com sua dinâmica própria e entendimentos que muitas vezes fogem da nossa compreensão exatamente porque não permitimos avançar sobre esses temas. Infelizmente, por conta de políticas indigenistas nefastas esses povos demoraram muito para ter uma educação pública de qualidade, tanto na educação básica como no ensino superior. Graças a um crescente aumento de indígenas na universidade podemos vislumbrar um futuro promissor para esses povos no que tange ao reconhecimento desses saberes pela acadêmia. Fazendo um rápido levantamento dos trabalhos de conclusão de curso de algumas universidades federais identificamos que todos os temas dizem respeito ao seu respectivo grupo étnico. Os temas envolvem educação escolar indígena, direitos, constituição, estatuto, organização social, cultura, danças, rituais, uso e domínio de plantas medicinais, enfim....os temas não se esgotam. Acredito, que além dar espaço para esses sujeitos, precisamos sempre que possível em nossa prática pedagógica debater com nossos acadêmicos textos, artigos e livros cujo autores devem ser indígenas e, de algum modo, articular essas questões com os problemas do mundo não indígena. A história desses povos tem nos mostrado que nunca foi fácil sobreviver ao longo desses anos todos, mas sempre encontraram estratégias de sobrevivência de lutas políticas, o que nos permitiu chegarmos juntos ao século XXI. Os movimentos indígenas precisam se unir, fortalecer seus projetos e colocar em funcionamento a Constituição Federal de 1988. A frase “ quem é visto é lembrado” precisa ganhar sentido para esses povos, afinal o contexto político atual não faz questão nenhuma de lembrá-los ou muito menos fazer valer seus direitos. É projetando suas demandas, propostas, ideias e soluções é que os indígenas, articulados cada vez mais ao meio acadêmico, poderão garantir seus direitos sempre com muita luta. Afinal, lutar é a palavra de primeira ordem para eles há centenas de anos. Com um abraço, Cristiano.
ExcluirOlá Cristiano, boa tarde! Isso mesmo, luta é sinônimo de resistência e autodeterminação dos povos tradicionais. Acredito que o livro que você se refere do Davi Kopenawa é "A queda do céu", onde ele faz uma narrativa e análise do povo Yanomami. Aqui na UFRR temos um Núcleo de Ensino Superior Indígena chamado INSIKIRAN, que se debruça sobre estas questões (Ensino, Pesquisa e Extensão). Já no tocante a um importante assunto que você abordou, no caso em questão o ensino indígena nas universidades, em um dos simpósios do evento, eu discuto um texto justamente sobre isso denominado: O Ensino da História Indígena nas Universidades brasileiras: Lei, Tabu e Autodeterminação". É importante fortalecermos os debates em torno desta temática, abraços!
ExcluirEduardo Gomes da Silva Filho
Boa noite professor Cristiano de que fora podemos refletir sobre o estatuto Indígena e sua relação co a Constituição de 1988 dentro do contexto do ensino de Historia ?
ResponderExcluirOlá Ana Paula, obrigado pela sua participação!
ResponderExcluirAcredito que uma chave de entedimento dessas duas questões esteja relacionado ao movimento indígena que antecede o advento do Estatuto e o fortalecimento das alianças desses povos objetivando garantir direitos na Constituição de 1988. É de extrema importância discutir algumas organizações e instituições que respaldaram a luta indígena tanto aqui no Brasil como fora do país. O ensino de história deve perpassar todo esse debate para que os alunos tenham condições de compreender em que contextos e quais lutas os povos indígenas travaram para se chegar aos artigos constitucionais relacionado as questões indígenas. Para contribuir sobre esse tema indico esses dois livros do Silvio Coelho.
SANTOS, Silvio Coelho dos (Org). Apresentação. Sociedades indígenas e o direito: uma questão de direitos humanos. Florianópolis: UFSC, 1985.
SANTOS, Silvio Coelho dos (Org.) O Índio Perante o Direito. Ensaios. Florianópolis, Editora da UFSC, 1983.
Boa tarde!Boa tarde!
ResponderExcluirInfelizmente, os índios ainda tem sua história negligenciada em todo o sistema escolar brasileiro (básico e superior). No sistema básico, ao qual me debrucei sobre uma pesquisa nos livros didáticos, é perceptível que mesmo após a advento da Lei 11.645/2008 o índio é invisibilizado nessa ferramenta, pois esses povos, quando citados, são “classificados” de maneira genérica sem identificação étnica, sem suas línguas, sem seus diferentes espaços, sem suas formas sociais de organização e cultura. Já na academia, a realidade é quase a mesma, tendo em vista que a maior parte das instituições de ensino superior não têm em sua grade um espaço destinado à História Indígena, como você bem afirma nesse seu trabalho, prejudicando de maneira significativa a possibilidade de se conhecer a real história desse povo.
Diante disso, e das grandes questões escolares que enfrentamos atualmente, como a mudança nas bases curriculares, deveríamos nos preocuparmos com a possível supressão das histórias das minorias, como é o caso dos indígenas, em contramão ao avanço que a produção historiográfica sobre esse tema vem tendo?
Clebert dos Santos Moura
Olá Clebert, obrigado pela participação!
ExcluirSuas questões são bastante pertinenetes e demandam uma ações concretas para não apenas manter o debate da temática indígena mas ampliá-la, incorporando elementos dos quais você mencionou, língua, rituais de passagem, canto, dança, entre outros temas. O aumento de publicações com esse viés de “alerta” colocado pelos povos indígenas é uma demonstração concreta entre tantas estratégias encabeçadas por eles. Devemos, como docentes tanto da educação básica e do ensino superior incluir em nossos programas de aula esses livros, ampliando o número de pessoas envolvidas nesse processo. Os tempos atuais são obscuros e incertos quanto ao futuro da educação e da permanência ou exclusão de disciplinas na rede de ensino. Ao invés de lutarmos para ampliar direitos e aplicar as leis que já existem, como a Lei 11.645/2008, vivemos um momento de luta pelo que já foi conquistado. Nesse sentido, penso que o debate sobre a temática indígena deverá, de algum modo estar presente na prática docente, independente de sua supressão ou não. Isso deverás é uma demonstração de luta e resistência tanto nossa quanto dos povos indígenas.
Abraço,
Cristiano
Segundo Davi Kopenawa, retrata a importância das estratégias do movimento indígena para a historiografia brasileira.
ResponderExcluirComo se deu essas estratégias de revisionismo na historiografia brasileira segundo Davi Kopenawa?
JAQUELINE CARDOSO PAIVA
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá professor! Que texto maravilhoso!! Só quem já teve a oportunidade de ler/ouvir o texto do Davi Kopenawa sabe como ele é emblemático! Ouvi através da leitura da minha professora em sala de aula na disciplina de Fundamentos e Questões em Educação, onde foi feito um esforço para se incluir temáticas voltadas aos povos indígenas, africanos e de gênero. Agora que darei aula em cursinho pré-vestibular me vejo no lugar de discutir tais temáticas. Antes, porém, gostaria de falar sobre o método da História Oral. Discordo, em partes, de que este metodologia de pesquisa não limite outras formas de conhecer o sujeito, ou o ator social. Penso que na verdade ela limita a um aspecto determinado da vida "a fala". É importante também quando o senhor afirma em seguida que ela é "predisposta" a ser dirigida a atores sociais mais de "esquerda", ou seja, excluidos da sociedade. Dito isto, gostaria justamente de dialogar sobre estes aspectos, uma vez que aqui se fala em Antropologia e Arqueologia. Minha pergunta é: em que pontos a História Oral beneficia ou não no conhecimento de tais povos? Indico também a leitura de Bruno Latour, quando este discorre sobre a simetria.
ResponderExcluirRafael Dalyson dos Santos Souza
Olá Rafael, obrigado por suas considerações, afinal, como mencionei no texto ele pretende ser um espaço de debate e, pelo que percebo, cumpre esse papel. De fato, há limites na história oral, especialmente, quando temos a ausência da fala. Mas o documento escrito pode e deve contribuir quando a metodologia da história oral e colocada em prática. É preciso estudar caso a caso. Em relação ao uso dessa metodologia com os povos indígenas é indispensável que os pesquisadores tenham o máximo de conhecimento sobre o que se pretende pesquisar, especialmente, quando o asunto toca em assuntos delicados e caros para os povos indígenas como a demarcação de territórios, violência, gênero, enfim. Tenho um diálogo muito forte com os Kaingang aqui do Paraná, especialmente da Terra Indígena Rio das Cobras. Há uns quatro anos aprovamos nossa política de acesso e permanência dos povos indígenas em minha universidade(UFFS), oferecemos mais de 80 vagas suplementares para quase todos os cursos, com exceção de medicina do qual não temos autonomia para aumetar ou diminuir vagas. Quando iniciamos nossas viagens pelas comunidades indígenas, conversamos e explicamos inúmeras vezes o que é a universidade e a importância de que os indígenas participassem do processo seletivo e fizessem algum curso de graduação. Bem, fui surpreendido por falas bastantes negativa, especialmente dos “velhos” sobre a “saída” desses jovens da comunidade, em um espaço “diferente” e que seriam mortos pelos “Brancos”. Observe o trauma que esses indígenas têm sobre o contato, a presença do branco em suas terras, as transformações que tiveram que passar para sobreviver, como não falar mais a língua indígena, assumir hábitos, impor sanções, explorar suas reservas naturais. Tudo isso, em parte com o aval das instituições públicas que deviam zelar pelo patrimônio, cultural e humano. No Laboratório de História Indígena (LABHIN-UFSC), em que participo como pesquisador, há um trabalho muito bom com essa metodologia na Terra Indígena de Xapecó/SC. Por meio desse trabalho se produz materiais didáticos que são utilizados nas escolas dentro da comunidade indígena. Veja o quanto essa metodologia é importante para esses sujeitos pois além de contribuir para sua própria história permite um revisionismo da história do Brasil. Obrigado pela indicação e vamos dialogando sempre!
ExcluirAbraço,
Cristiano
Cristiano, a partir da sua fala lembrei muito da tese de Gersem, não li toda, mas é maravilhoso o trabalho dele. Ele veio aqui na UFCG/CFP (CZ) para uma conferência no evento daqui. Tenho certeza que você já conhece o trabalho dele e deve saber da luta dele justamente neste sentido, enxergando a Universidade como um espaço necessário mas sem perder suas raízes. É um debate intenso realmente... Agradeço demais a oportunidade de dialogar com vc. Abraços e luta sempre!
ExcluirBom dia,o texto nos traz uma perspectiva interessante sobre os povos indígenas, gostaria de saber se durante a pesquisa foi identificado como está o processo de identidade indígena na contemporaneidade? Com base na história oral.
ResponderExcluirPaulo de Mendonça Mafra
Boa noite pro. Cristiano! Parabenizo pela riqueza de relatos e visão desse protagonismo dos povos indígenas. Trabalho na rede particular na cidade de Santarém-PA e estamos trabalhando os povos tradicionais da Amazônia, o que se encaixa perfeitamente o seu relato de estudo. Estamos enfrentando resistência de certos grupos por causa principalmente da visão estereotipada que se tem do indígena e o qual estamos combatendo. De que forma o senhor nos sugere o encaminhamento de debate com a comunidade, de forma que se combata os preconceitos com relação aos povos indígenas? Lidia Cristiany Alves Assunção
ResponderExcluirPertinente seu texto professor, parabéns! Mas como professores da educação básica podem levar ao conhecimento e ao debate as ações da historiografia indígena, sendo que pode haver conflitos com os grupos de "elites" existentes, principalmente, na rede particular de ensino? Lidia Cristiany Alves Assunção
ResponderExcluirBoa noite professor, adorei o seu texto. Tenho realizado pesquisas sobre a história indígena e do indigenismo, por isso, tenho acompanhado alguns trabalhos seus, os quais me auxiliam enquanto referência teórica para alguns pontos. Deste modo, fico feliz pela sua participação neste evento. Partindo da leitura do seu texto, minha dúvida se dá de forma mais conceitual e se relacionando as pequisas acadêmicas, nesta acepção, tenho observado que esse protagonismo indígena, em alguns trabalhos, tem dialogado com os princípios da mestiçagem e trânsito de culturas, fazendo uso de conceitos como mediação e mediadores culturais, os quais, são questionados por outros pesquisadores/as que dizem que tais perspectivas romantizam os processos históricos que, por sua vez, estão permeados de tensões e conflitos interétnicos. Logo, gostaria de saber como o professor avalia e tem acompanhado estes debates dentro dos liames da História Indígena?
ResponderExcluirAtt.
Jessica Caroline de Oliveira