Douglas Mota Xavier de Lima



METODOLOGIAS ATIVAS NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE HISTÓRIA

O mundo contemporâneo tem desafiado as universidades com demandas de diferentes ordens, colocando em xeque a formação nos moldes tradicionais. Entre tais desafios destaca-se o papel de instrumentalizar os alunos para um processo de educação continuada e reorientar o foco do ensinar para o aprender. Do mesmo modo, tal contexto de mudanças demanda que os professores assumam o papel de facilitadores ou mediadores do processo de aprendizagem e que o aluno se afaste do papel passivo para tornar-se ativo na construção do conhecimento e protagonista de sua própria formação (Behrens, 2013:76-77).

Esse cenário se faz sentir nas diversas áreas do saber e, em especial, na Educação. No caso da História, o período que compreende a dissolução da ditadura civil-militar no Brasil e o processo de redemocratização conheceu a ampliação das discussões acerca do ensino de história, envolvendo aspectos como a formação docente inicial e continuada, a produção de materiais didáticos e paradidáticos, as metodologias de ensino, etc. Não obstante, mesmo com as mudanças recentes na legislação, ainda se enfrenta o desafio da inserção da reflexão didática nos componentes curriculares das graduações em História, seja nas licenciaturas ou nos bacharelados. Além disso, a definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em dezembro de 2017, promete oferecer novas orientações para a estruturação do ensino em seus diferentes níveis, resultando, por exemplo, em mudanças na formação de professores no ensino superior, ao passo que a aprovação da Reforma do Ensino Médio lança apreensões sobre suas consequências na educação básica e sobre a possível redução das Ciências Humanas e, especificamente, da História, no Ensino Médio.

Diante dos elementos expostos, a presente reflexão concentra-se nos desafios colocados à formação inicial do professor em História, discutindo para isso práticas de ensino e aprendizagem no ensino superior com base nas metodologias ativas.

A formação inicial em História: algumas considerações
A concepção geral sobre a didática da história a situa como uma abordagem formalizada para ensinar história na educação básica e uma disciplina que faz a mediação entre a história como disciplina acadêmica e o aprendizado histórico e a educação escolar, não tendo relações com o trabalho dos historiadores. Jörn Rüsen considera que foi durante o século XIX que a didática da história deixou de ser o centro da reflexão dos historiadores para ser substituída pela metodologia da pesquisa histórica (2011, p.23-25). Entre as consequências dessa “cientifização” apontada pelo autor estão a importância secundária dada ao ensino, entendido como reprodutor do saber acadêmico; o distanciamento entre a formação de bacharéis e licenciados; e a separação entre as disciplinas de conteúdo específico e as disciplinas pedagógicas, compreendidas como instrumentais, para a formação do professor.

Sem aprofundar tais questões, já exploradas pela literatura especializada, convém destacar as implicações dos elementos expostos para a formação docente, em especial, para a formação inicial nas graduações em História, momento ímpar em que os saberes históricos e pedagógicos são mobilizados, problematizados, sistematizados e incorporados à experiência de construção do saber docente e momento de estruturação da identidade pessoal e profissional do professor. A formação docente no país – o que pode ser ampliado a mais áreas do que apenas a História – foi marcada pelo modelo da racionalidade técnica e científica, modelo generalizado pela fórmula “três + um”, que consiste em que durante três anos os alunos cursam disciplinas obrigatórias da área de história e, em seguida, cursam disciplinas obrigatórias da área de pedagogia e aplicam os conhecimentos na prática de ensino. Deste modo, durante as últimas décadas do século XX, predominou o modelo de formação que combinava licenciaturas curtas e plenas de um lado e bacharelados de outro, estruturados com base na dicotomia conhecimentos específicos da disciplina/conhecimentos pedagógicos, preparação para o ensino/preparação para a pesquisa, conhecimentos teóricos/conhecimentos da prática (Fonseca, 2003, p.60-62; Monteiro, 2013, p.26-28).

Como expressão desse cenário, as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Superiores de História foram elaboradas em 1998, a partir da Comissão de Especialistas de História nomeada pelo Ministério da Educação (MEC) e de representantes da Associação Nacional de História (Anpuh), sendo o documento aprovado e publicado em 2001 (Parecer CNE/CES 492/2001). O texto das Diretrizes pouco acrescenta sobre a formação do professor, reduzindo as habilidades profissionais do perfil do egresso a uma competência específica, o conhecimento da história fundamentado no exercício da pesquisa. Esta premissa, ao ser atendida, é encarada como garantia da aptidão do profissional para atuar em outros campos, dentre os quais o magistério. Além disso, ao separar as competências e habilidades da licenciatura, o documento contribui para reforçar a separação entre licenciaturas/bacharelados e ensino/pesquisa, por mais que explicite que “as atividades de prática de ensino deverão ser desenvolvidas no interior dos cursos de História, e sob sua responsabilidade, tendo em vista a necessidade de associar prática pedagógica e conteúdo de forma sistemática e permanente” (Cf.: Fonseca, 2003, p.65-67; Ricci, 2015, p.118-119).

Os elementos que se apresentam nas Diretrizes permitem retomar o difícil problema da formação de professores no Brasil apontado anteriormente, manifesto, por exemplo, no impasse institucional sobre a quem cabe formar professores. Tal problemática também tem estado em voga nas discussões internacionais e desdobra-se em outras questões, orientando investigações sobre a desarticulação entre as disciplinas pedagógicas e de conteúdo específico; o predomínio do conteúdo factual em detrimento de saberes curriculares e relativos às práticas pedagógicas; a resistência à discussão sobre ensino de história nas universidades de maior prestígio; e a separação entre a cultura histórica e a didática da história (Cf.: Oliveira & Freitas, 2013)

Nesse quadro, Ana Maria Monteiro lembra que é comum encontrar críticas à formação recebida por parte dos professores de história, principalmente os recém-formados, os quais denunciam que a formação não os preparou para os desafios do cotidiano escolar. Paralelamente, a autora argumenta que nas últimas décadas as pesquisas do campo da Educação têm demonstrado que as escolas exigem o domínio de saberes outros que não apenas aqueles referentes às disciplinas que os professores vão ensinar. Monteiro conclui que o modelo de formação ainda vigente, “mais do que formar o profissional professor, tem fortalecido, nos estudantes, o desejo de ser bacharel e pesquisador, e deslegitimado o interesse em ser professor”, porém, ainda é comum encontrar posicionamentos que defendem o domínio teórico dos conhecimentos específicos e

“...que as técnicas e metodologias devem ser ensinadas simultaneamente e nos próprios institutos. Mas, geralmente, com honrosas exceções, encontramos, nessas instituições, poucos profissionais com experiência e interesse pela docência na educação básica, situação decorrente da forma como os processos de seleção de docentes tem sido realizada, com base na perspectiva de fomentar o desenvolvimento da pesquisa científica na área específica. É nas faculdades e departamentos de educação que têm sido contratados docentes com experiência em ensino e pesquisa em questões educacionais”. (Monteiro, 2013, p.29)

O trecho de Monteiro insere outra variante no problema da formação de professores e, precisamente, da formação docente em História. Em termos gerais, na maioria das instituições de ensino superior, “predomina o despreparo e até um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino e aprendizagem” por parte dos professores (Pimenta & Anastasiou, 2014, p.37). Especificamente nos casos das licenciaturas de História, os currículos mantêm a ênfase na formação em pesquisa centrada em temas da historiografia, tal como nos cursos de bacharelado, sendo o “saber da experiência” abordado nas disciplinas de Didática, Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. Nesse sentido, qual o perfil do professor universitário das licenciaturas em História que é responsável por formar professores da educação básica? A resposta a essa questão demandaria uma discussão e uma investigação que ultrapassa os limites e interesses do presente estudo. Contudo, os resultados da pesquisa de Raquel Venera (2016) sobre os concursos docentes na área de ensino de história oferecem apontamentos para essa problemática.

A autora investigou onze (11) concursos docentes entre 2008 e 2010, identificando que apenas quatro privilegiaram a formação em Educação, isto é, com exigência de formação em licenciatura em História e possibilidade de Doutorado em Educação. Ainda em relação a esses dados, Venera ressalta o descompasso entre o campo da pesquisa em ensino de história, mormente desenvolvido na área da Educação, e os concursos analisados, pois mesmo as vagas para o magistério na área de ensino de história têm o perfil deveras distanciado do campo da Educação, o que amplia as dificuldades a serem superadas. Ao comparar as discussões do estudo com as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Superiores de História, Venera conclui que ambos são expressão de práticas discursivas cristalizadas na ideia de que os saberes de conteúdo de História resultam em saberes do ensino de História (Venera, 2016), o que reafirma a noção de que a docência no ensino superior não requer formação no campo do ensinar (Pimenta & Anastasiou, 2014, p.36).

Em síntese, os estudos do campo do ensino de história defendem que a formação inicial do historiador deve possibilitar conhecimentos atualizados do campo da historiografia e do campo dos conteúdos “factuais”, assim como deve possibilitar a compreensão dos modos de produção do conhecimento histórico. Não obstante, tratando-se de uma formação docente, também é necessário que a formação inicial seja encarada como formação do professor, permitindo o desenvolvimento da identidade profissional. Assim, o professor de história deve ser alguém que domine não apenas os mecanismos de produção do conhecimento histórico, mas um conjunto de saberes, competências e habilidades que possibilitam o exercício profissional da docência.

Tendo essa proposição como o objetivo da formação do professor de história, cabe avançar em considerações sobre as maneiras pelas quais essa finalidade pode ser alcançada.

Ensino e aprendizagem: algumas considerações sobre o ensino superior
Tradicionalmente, a universidade afirmou-se como instituição de pesquisa, de criação de tecnologias e de sistematização dos conhecimentos, sendo uma das principais detentoras do saber necessário para a formação de profissionais. Como outras características desse modelo tradicional aparecem o afastamento das demandas sociais e regionais/locais, os currículos seriados, a centralidade do professor, os métodos de ensino predominantemente orais e expositivos, e avaliações voltadas aos conteúdos teóricos. Diante das mudanças vivenciadas na sociedade nas últimas décadas, em especial em termos de acesso à informação, esse modelo universitário tem se mostrado insuficiente e inadequado para responder às demandas contemporâneas.

Atualmente, o conhecimento incorporou três novas conotações: a maior abrangência dos estudos e pesquisas multi e interdisciplinares; a provisoriedade das definições científicas, com a proliferação contínua de descobertas científicas e tecnológicas; e a acessibilidade ao conhecimento, influenciada diretamente pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. Estas mudanças colocam em xeque a relação institucional da universidade com o conhecimento, reconfiguram o papel do aluno e do professor e estimulam a busca por uma ressignificação do processo de aprendizagem (Cf.: Masetto, 2015 (b), p.13-16).

Em linhas gerais, Marcos Masetto considera que a docência universitária colocou sua ênfase no processo de ensino, com uma metodologia centrada na transmissão ou comunicação oral de temas e assuntos selecionados por parte do professor, ou leitura de livros e artigos e sua repetição em sala. Não obstante, ao colocar a ênfase no processo de aprendizagem as consequências apresentam-se bem diferentes, implicando na mudança na organização curricular, na contratação do corpo docente e na metodologia da aula. Ao destacar a importância da aprendizagem, os processos de ensino e aprendizagem são reestruturados tendo a aprendizagem dos alunos como finalidade e ocupação básica da docência (Masetto, 2015 (a), p.44-51).

Nesse contexto, a aula tradicional, expressão do modelo industrial de ensino, tem dado lugar a métodos de ensino alternativos, com base na colaboração, na exploração, na investigação e no fazer. Assim, chega-se a um novo papel do processo de ensino e aprendizagem, pautado na perspectiva de que “além de reter informação, o aprendiz necessita ter um papel ativo para significar e compreender essa informação segundo conhecimentos prévios, construir novos conhecimentos e saber aplicá-los em situações concretas” (Valente, 2014, p.81). Tais mudanças implicam ainda na reconsideração do espaço da sala de aula, das práticas desenvolvidas e do próprio público, que passa a ser reconhecido como um público que está na fase adulta da vida com suas especificidades no processo de ensino e aprendizagem.

Partindo destes pressupostos, a utilização das metodologias ativas avança significativamente nas ciências sociais aplicadas, nas ciências da saúde e nas ciências exatas (Cf.: Berbel, 2011; Souza, Iglesias & Pazin-Filho, 2014; Valente, 2014), ao passo que nas ciências humanas ainda apresenta uma inserção incipiente. Tradicionalmente, as aulas das disciplinas das ciências humanas já usam o expediente de recorrer à leitura e ao estudo de textos previamente para, em sala, concentrar a atividade na discussão dos textos. Não obstante, as propostas em questão concentram a atenção na orientação da leitura a partir, por exemplo, de um estudo dirigido dos textos e na implementação do modelo de Rotação Sala de Aula Invertida, no qual, geralmente, o professor seleciona e disponibiliza vídeos e outros materiais on-line que serão o suporte de conteúdo expositivo. Talvez seja a ausência desses suportes um dos grandes limitadores para a implementação do modelo no caso específico da História, no que pese a relevante contribuição dos cursos, palestras, programas on-line e animações disponibilizados, por exemplo, em canais nacionais como UNIVESP-TV e CEAv UNICAMP, ou nos espanhóis HISTORIA A DEBATE, CANAL UNED e ACADEMIA PLAY.

Considerações finais
Buscou-se apresentar algumas discussões relativas à formação inicial do professor de História e, num primeiro momento, concentrou-se a atenção nos desdobramentos do processo de cientifização que caracteriza o movimento de institucionalização e profissionalização da área, em especial o distanciamento entre a formação de bacharéis e licenciados e a separação entre as disciplinas de conteúdo específico e as disciplinas pedagógicas. Tais desdobramentos se expressam nas Diretrizes Curriculares (2001), que permanecem inseridas no impasse entre ensino e pesquisa ou entre bacharelado e licenciatura, ainda que este distanciamento seja criticado pelo campo da Educação e, especificamente, do ensino de História. Ao acompanhar as discussões deste campo em particular, observa-se que uma série de problemáticas estão relacionadas a esse quadro de tensão entre uma formação voltada ao domínio teórico dos conhecimentos históricos e uma formação direcionada aos saberes da experiência e das práticas pedagógicas. Entre estas problemáticas, destacou-se ao longo do texto a questão dos componentes curriculares, que mantêm a ênfase na formação teórica e em pesquisa e que concentra a formação pedagógica em disciplinas específicas; e do próprio perfil do professor universitário de História, que mesmo na área de ensino de história tende a ter uma formação afastada do campo da Educação, visto que essa orientação, por vezes, não é solicitada nos concursos docentes.

Não obstante, em linhas gerais, as pesquisas enfatizam que o professor de história deve ser alguém que domine não apenas os mecanismos de produção do conhecimento histórico, mas um conjunto de saberes, competências e habilidades que possibilitam o exercício profissional da docência. Considera-se que essa proposição serve de ponto de partida para novas e necessárias reflexões, pois ao ter como horizonte uma formação que também se estruture no exercício profissional da docência, os cursos de licenciatura tendem a passar por uma reestruturação significativa, como as que direcionam a Base Nacional Comum Curricular e a Resolução CNE nº2/2015. Essa reestruturação não pode ser pensada apenas no campo da História, antes, passa necessariamente pelas discussões do campo da Educação e envolve diretamente o problema da aprendizagem e da docência universitária.

Nesse sentido, estruturou-se o segundo tópico do texto em torno das mudanças vivenciadas pelo meio universitário nas últimas décadas, em especial relacionadas às mutações impostas pela sociedade do conhecimento. Procurou-se demonstrar que um dos caminhos para responder às demandas contemporâneas foi a docência universitária reorientar a sua ênfase do processo de ensino ao processo de aprendizagem, posicionamento que tem resultado na substituição dos métodos tradicionais por métodos inovadores de ensino e aprendizagem, no desvio do foco do docente para o aluno, na percepção das especificidades do processo de ensino e aprendizagem para adultos e na promoção de ambientes de aprendizagem variados.

Ao passo que as discussões da área de ensino de história tratam, sobretudo, da questão do ensino e aprendizagem na educação básica, com este texto o objetivo foi oferecer apontamentos diretamente relacionados ao meio universitário e, consequentemente, relacionados à formação inicial de professores de história. Considera-se que a ênfase no processo de aprendizagem pode ser o primeiro passo para o redirecionamento das licenciaturas em História em vista de superar os impasses já discutidos e alcançar uma formação que se estruture na “articulação entre a teoria e a prática no processo de formação docente, fundada no domínio dos conhecimentos científicos e didáticos, contemplando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”, como estabelece a Resolução nº2, de 1º de julho de 2015, do Conselho Nacional de Educação.

Referências
Douglas Mota Xavier de Lima é professor Adjunto da Universidade Federal do Oeste do Pará, Doutor (2016), Mestre (2012), Bacharel e Licenciado (2009) em História pela Universidade Federal Fluminense.

BEHRENS, Marilda Aparecida. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In: MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos Tarciso & BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Papirus, 2013, p.73-140.

BERBEL, Neusi Aparecida Navas. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes, Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v.32, n.1, p.25-40, jan./jun., 2011.

FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de Ensino de História. Campinas/SP: Papirus, 2003.

MASETTO, Marcos T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus, 2015 (a).

__________________. Desafios para a docência universitária na contemporaneidade. Professor e aluno em inter-ação adulta. São Paulo: Avercamp, 2015 (b).

MONTEIRO, Ana Maria. Formação de professores: entre demandas e projetos, Revista História Hoje, v.2, n.3, p.19-42, 2013.

OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de & FREITAS, Itamar. Desafios da formação inicial para a docência em História, Revista História Hoje, v.2, n.3, p.131-147, 2013.

PARECER Nº 492/2001, Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de História – MEC.

PIMENTA, Selma Garrido & ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 5ª ed., 2014.

RICCI, Claudia Sapag. Historiador e/ou professor de História: a formação nos cursos de graduação de História, Revista História Hoje, v.4, n.7, p.107-135, 2015.

RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora, BARCA, Isabel, MARTINS, Estevão de Rezende. Jörn Rüsen e o Ensino de História. Curitiba: Editora UFPR, 2011, p.23-40.

SOUZA, Cacilda da Silva, IGLESIAS, Alessandro Giraldes, PAZIN FILHO, António. Estratégias inovadoras para métodos de ensino tradicionais – aspectos gerais, Revista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, 47 (3), 2014, p.284-292.

VALENTE, José Armando. Blended learning e as mudanças no ensino superior: a proposta de sala de aula invertida, Educar em Revista, Curitiba, Edição especial, n.4, 2014, p.79-97.

VENERA, Raquel Alvarenga Sena. Os concursos para docentes do ensino superior na área de ensino de história, Fronteiras. Revista de História, Dourados/MS, v.18, n.31, p.17-31, jan./jul., 2016.

13 comentários:

  1. João Matheus da Silva Cruz9 de abril de 2018 às 02:54

    João Matheus da Silva Cruz

    Prof. Douglas, na sua opinião, que essa ênfase maior no desenvolvimento da prática docente, com o enfoque maior nas metodologias de pesquisa, por exemplo, seja em razão da baixa valorização salarial que professores vem recebendo no país a décadas, e mais recentemente, por conta de movimentos conservadores como o 'Escola sem Partido’?

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    1. Caro João, obrigado pela pergunta.
      Vou tentar desenvolver uma resposta, caso não consiga abarcar a sua pergunta, podemos avançar na questão.

      1. relação entre formação docente com enfoque em pesquisa e baixa remuneração.

      Considero que a circunstância expressa diferentes problemas que enfrentamos, ainda que não tenha relações de causa-efeito. a) A hierarquização entre o historiador-bacharel (mais valorizado) e o historiador-professor da educação básica (desvalorizado). Tal hierarquia resulta, entre outros fatores, na distância salarial e de status profissional entre os docentes de História no meio acadêmico e no meio escolar. Baixos salários, violências e condições estruturais precárias, acabam conduzindo cada vez mais estudantes de História para fora da sala de aula da educação básica, principalmente, em expectativa profissional, visto que, em termos práticos, será nas salas de aula das escolas públicas que a maior parte dos recém formados irão trabalhar. B) a relação também revela que o enfoque (quase) exclusivo em discussões historiográficas e metodologias de pesquisa, tão comuns em cursos de licenciatura em História "do Oiapoque ao Chuí", favorecem que a identidade profissional do estudante de História como "professor" fique subdesenvolvida, contribuindo diretamente para que a "prática docente" fique em segundo plano e o futuro professor almeje os melhores salários possíveis a partir da via da pesquisa.
      Em síntese, considero que "o enfoque maior nas metodologias de pesquisa", como você bem assinalou, expressa tanto a desvalorização da formação docente para a educação básica, marcada por baixos salários e problemas vários, como uma concepção hierárquica que valoriza mais os saberes do bacharelado em detrimento dos saberes da docência.

      2. Movimentos conservadores (ex.: Escola sem Partido) e formação docente com foco nas metodologias de pesquisa.

      Penso que propostas como a do movimento citado atuam mais para limitar a abrangência da formação docente - por exemplo, focando em práticas de ensino em detrimento de formação teórica e política - do que para reafirmar um padrão de formação inicial que se concentre em metodologias de pesquisa. Em linhas gerais, penso que a resistência em assumir a importância da formação docente como eixo estruturante das licenciaturas em História nutre-se mais da tradição acadêmica da área (seja no Brasil ou no exterior) do que de movimentos externos ao "campo" acadêmico.

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  2. Prof. Douglas, na sua opinião qual o maior problema do ensino de História no Brasil atualmente ?
    Jessica Monteiro Viana de Andrade.

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    1. Olá Jéssica, obrigado pela pergunta.
      Então, não acredito que exista "o maior problema", e sim um conjunto de fatores.

      Podemos levantar problemas macro, como infraestrutura precária, falta de professores, baixos salários e desvalorização profissional, violência no ambiente escolar, entre outros. Perceba que são problemas que envolvem toda a Educação, mas afetam diretamente o ensino de história.

      Na minha conferência tentei concentrar a reflexão na formação inicial oferecida pelos cursos de licenciatura em História, nesse recorte temático penso que um dos problemas centrais enfrentados é a permanência de uma lógica de formação direcionada aos saberes da pesquisa em detrimento das discussões pedagógicas. Ressalto que estou tentando propor que a problemática da docência esteja presente, de forma explícita, desde o primeiro período, passando por disciplinas como Antiga, Medieval, Moderna, África, Brasil, América, etc, e não apenas por componentes pedagógicos (Didática, Prática de ensino, Psicologia da educação, etc). Por fim, também busquei enfatizar que, ao meu ver, as metodologias ativas constituem uma via privilegiada para tal formação docente.

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  3. Parabéns professor Douglas Mota Xavier de Lima e obrigado pelo trabalho. passei a ser seu fã.
    José Guilherme Aguiar Assis.

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  4. Parabéns pelo excelente texto, Douglas!
    Sou mestrando em educação e professor de história, porém vejo também uma enorme carência no que diz respeito ao uso de metodologias ativas no ensino de história e, como bem colocado no texto, nas aulas oriundas das ciências humanas. Concordo contigo que a falta de conhecimento ou formação pedagógica na graduação e na pós-graduação prejudica o professor de história no ato do ensino.
    Nesse sentido, em sua concepção, qual seria o caminho a ser seguido para suplantar essa situação em torno do ensino de história?

    --
    Fábio Alexandre da Silva

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    1. Olá Fábio, obrigado pelas palavras.

      Primeiramente, considero que os novos marcos legais para os cursos de licenciatura, passando ainda pela aprovação BNCC, estão acentuando a ênfase na formação docente e isso tende a pressionar por mudanças na formação do professor de história. Estamos em meio ao turbilhão de transformações e não podemos negligenciar o cenário político nacional e as contradições inseridas nas leis e políticas educacionais citadas, de todo modo, considero que questões como: ambientes diversificados de aprendizagem, estratégias de aprendizagem colaborativa, usos de tecnologias da informação e comunicação no ensino, etc, serão temas incontornáveis na próxima década.

      Em segundo lugar, venho tentando destacar que a preocupação com a formação docente não deve estar presente apenas nas disciplinas pedagógicas, mas ser um dos elementos estruturantes de todas as disciplinas dos cursos de Licenciatura em história. Em termos práticos, considero que componentes curriculares como Antiga, Medieval, Moderna, América, África, Contemporânea..., devem abordar historiografia, o contexto, porém também devem discutir como ensinar história antiga, medieval, moderna, América...
      Por exemplo, em minha universidade leciono Antiga, Medieval e Moderna na graduação. Nas disciplinas, temos encontros para discutir os conteúdos citados nos livros didáticos, pesquisas de campo a fim de identificar como os professores da rede municipal ensinam os conteúdos citados, usos de filmes, quadrinhos, literatura e outras linguagens para o ensino das matérias, e mais recentemente tenho trabalhado com avaliações finais nas quais os futuros professores produzem jogos didáticos, peças teatrais, entre outros elementos que visam explorar os conteúdos históricos das disciplinas associando-os ao exercício da docência.

      Por fim, tendo em vista que você assinalou o tema das metodologias ativas, gostaria de destacar outro elemento. Considero que a problemática que orienta os métodos ativos enfatizam a aprendizagem como elemento central da docência e não o ensino. Essa reorientação conduz o professor a repensar seu planejamento, os conteúdos e as estratégias de ensino, buscando alcançar a aprendizagem do educando (em geral, adulto) que, tem seu papel de protagonista reforçado. Ao fazer isso, não duvido que a forma como o ensino em geral e, especificamente, o ensino de história ocorre, tende a mudar.

      Desejo um bom desenvolvimento da sua pesquisa de mestrado.

      Cordialmente,

      Douglas Lima

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  5. Olá Prof. Douglas,
    Primeiramente, parabéns pelo texto extremamente lúcido quanto aos problemas da nossa formação docente em História. Eu diria até que seu texto é uma defesa apaixonada de uma urgente renovação no campo da História enquanto disciplina (se eu estiver errado neste ponto, gostaria de ser corrigido).
    Quanto às suas críticas ao modo como é feita a formação docente, de onde o texto traz a boa fundamentação de Jörn Rüsen, apontando a "cientifização" da História do século XIX como um dos motores de uma certa discriminação à didática da História, me vem a seguinte questão: é possível, sim, associar a prática investigativa à didática; no entanto, por quais meios podemos estruturar essa associação de forma sincrônica, sem que haja uma discriminação ou superioridade da História 'acadêmica' ou da História 'ensinada'? Afinal, sabemos que há certa dicotomia um tanto pejorativa entre estas áreas, que vem desmerecer a prática do ensino e exalta a prática acadêmica, mas que deixa de enxergar que, em essência, ensino e pesquisa devem ser interdependentes.
    Por: Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro.

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    1. Olá Luiz, obrigado pelas palavras.

      Concordo que busquei fazer essa tal defesa da renovação da formação docente. Tive a oportunidade de lecionar durante 6 anos na educação básica, mesmo período de formação na pós-graduação. Desde que assumi o magistério superior em 2014, venho tentando explorar novas estratégias de ensino e aprendizagem, mesmo concentrando minha ação em disciplinas contextuais como Antiga e Medieval.

      Concordo com os seus apontamentos e penso que para associar a prática investigativa à didática algumas ações são importantes, como: aproximar todo o quadro acadêmico do curso de história do ambiente escolar, e não apenas os professores de ensino de história (que, como assinalado no texto, por vezes, também não tem uma trajetória ligada ao ensino); e mobilizar nosso instrumental teórico-metodológico da área para o ensino. Em geral, as disciplinas se limitam a buscar estratégias para perceber se determinados conceitos foram aprendidos, se o discente consegue discutir um tema confrontando autores, fazendo uso de avaliações escritas (resenhas, fichamentos, prova). Considero que é importante dar mais um passo e, desde os primeiros períodos da graduação em licenciatura em história, conseguir problematizar como esse instrumental pode favorecer a aula de história.

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  6. Boa noite Professor Douglas.

    Eu trabalho com o Ensino Fundamental I e estou terminando a faculdade de História, e observo como nas séries iniciais o conteúdo trabalhado com as crianças é superficial. Além da falta de conhecimento ou interesse dos profissionais em aprender sobre o tema e construir o conhecimento com seus alunos.
    A minha questão é, será que esse conteúdo "fraco" nas series iniciais aliado com a falta de interesse e uma desvalorização do conteúdo de História, desde o Fund. 1, não está refletindo para um demérito da importância de se estudar essa disciplina, tanto do Fund 2 e Médio quanto nas Universidades?

    Obrigada.
    Amanda Wrobel Schatz Gouveia

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    1. Olá Amanda, obrigado pela pergunta.

      Então, não considero que a forma como é trabalhado o ensino de história nas séries iniciais seja um fator central que contribua para a desvalorização da área de História. Penso que outros fatores, como o descrédito dado às ciências humanas, por exemplo, têm um peso mais importante.

      No entanto, você traz uma questão complexa. Meses atrás tive a oportunidade de participar de uma mesa-redonda tratando da BNCC e destacava que, com a Base, conteúdos tradicionais de História, como História Antiga (surgimento da cidade e do Estado, Egito e Mesopotâmia) estão inseridos no 5º ano. Ou seja, parte considerável dos conteúdos de História Antiga serão lecionados por pedagogos e não por professores de história. Tal como você relatou, cada vez mais estudantes e graduados em história atuam com as séries iniciais, contudo, esse não é o fluxo correto. As licenciaturas em história não formam profissionais para as séries iniciais, e sim para o Fundamental 2 e o ensino médio. Acrescento que os cursos de pedagogia, em geral, tem apenas 1 disciplina de história, responsável por apresentar elementos sobre o ensino de história de 1 a 5 ano.

      Outra questão possível de discutir é: será que nas séries iniciais e nessa etapa de aprendizagem, a história deve se pautar em ensinar os conteúdos contextuais ou buscar enfatizar as estratégias de ensino-aprendizagem em torno de conceitos-chave (temporalidade, processo histórico, fontes...)?
      Mais uma vez, a sua pergunta é muito boa para refletir...

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