DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA: CONTRIBUIÇÕES DE
UMA PESQUISA EM COLABORAÇÃO
Introdução
Em seu livro – A teoria da história de Jörn Rüsen, uma introdução – o
historiador brasileiro Arthur Assis considera que um dos aspectos centrais da
teoria da história de Rüsen é responder à complexa questão: o que fazem os
historiadores quando fazem a história? Na esteira das reflexões de Assis este
trabalho percorre o pensamento ruseniano naquilo que diz respeito às suas
reflexões constitutivas de uma teoria da aprendizagem histórica e, portanto,
para uma metodologia de ensino ou um fazer do historiador quando ensina a
história.
Como sugerido no título, a tradicional relação “ensino e aprendizagem”
foi invertida para “aprendizagem e ensino”. Na história da forma escolar (Vincent,
Lahire, Thin, 2001) as teorias ou concepções de aprendizagem, sempre
fundamentadas em determinadas teorias psicológicas, têm servido de esteio para
processos de ensino, adequações dos conteúdos e maneiras de se abordar o
desenvolvimento do pensamento em crianças e jovens, como as atuais teorias
construtivistas de aprendizagem. A centralidade da aprendizagem na prática
docente é uma problemática que vem sendo enfrentada por educadores em geral e,
especialmente, pelos especialistas na área das Didáticas Específicas, como a
Didática da História, podendo-se afirmar que se sabemos como se aprende,
podemos saber como se ensina. Assim, entende-se que o elemento nuclear da
prática docente é a aprendizagem, que resulta da atividade intelectual e
prática de quem aprende em relação ao conteúdo ou objeto, realizada junto com
os professores e colegas. Portanto, a referência para as atividades de ensino é
a aprendizagem do aluno; o como se ensina depende de saber como os indivíduos
aprendem. Ressalta-se, assim, a importância da concepção de aprendizagem como
ponto de partida e pressuposto orientador do método de ensino da História, bem
como a sua complexidade e diversidade de abordagens, tendo em vista a sua
relação com a ciência de referência. É justamente a relação com a ciência de
referência que muda, quando se propõe uma mudança de paradigma acerca do
desenvolvimento e formação do pensamento histórico. Acredita-se que a perspectiva
da aprendizagem histórica situada a partir da própria ciência da história é uma
questão relevante em face dos resultados de investigações, indicativos do
desinteresse de crianças e jovens pelo conhecimento histórico escolar, bem como
das demandas provenientes de insucessos escolares no que diz respeito às
aprendizagens históricas significativas para a construção da consciência
histórica, num contexto de formação da contraconsciência para além do capital.
Esta perspectiva põe em questão o significado da aprendizagem histórica,
particularmente no que se refere ao seu significado e sentido para os sujeitos.
(Schmidt, 2009.p.30-31)
Ressalte-se o fato de que a aprendizagem histórica pressupõe a interiorização
de novas qualidades cognitivas com o objeto que está sendo aprendido e, nesse
sentido, algumas questões se apresentam, tais como: que novas qualidades cognitivas
seriam essas? O que orienta a intencionalidade de quem ensina em relação a quem
aprende e a de quem aprende em relação a quem ensina? Onde encontrar respostas
para estas questões? Nas ciências da educação ou na própria História?
Na tentativa de responder às problemáticas, pode-se remeter ao diálogo
com o pensamento de Jörn Rüsen, buscando-se referência para uma teoria da
aprendizagem, fundamentada na ciência da História e que seja orientadora do
significado e função da aprendizagem histórica como o centro da Didática da
História. Ao assumir o princípio da Didática da História como ciência da
aprendizagem histórica, Rüsen justifica dizendo que isto ocorre porque ela produz de modo científico (especializado) o conhecimento
necessário e próprio à história, quando se necessita compreender os processos
de aprendizagem e lidar com eles de modo competente. Ou, todo
conhecimento acerca do que seja a aprendizagem histórica requer o conhecimento
do que seja história, daquilo em que consiste a especificidade do pensamento
histórico e da forma científica moderna em que se expressa. No cerne da questão
está a capacidade de pensar historicamente, a ser desenvolvida nos processos de
educação e formação. (Rüsen,2015,p.248).
Segundo o autor, o pressuposto da Didática da História como a ciência da
aprendizagem histórica sinaliza que a questão central é compreender como o
pensamento histórico contribui para orientar, temporalmente, a vida humana para
dentro (identidade) e para fora (práxis). Do ponto de vista epistemológico, a
Didática da História presta contas com o processo do aprender a pensar
historicamente, ou seja, com realizar a “formação histórica” e isto envolve
dois aspectos – vida prática e ciência - organicamente interligados. Numa
perspectiva transversal, significa entender o saber histórico como síntese da
experiência humana com a sua interpretação para orientação na vida prática; e
na horizontal, seria considerar a formação como socialização e individuação
(dinâmica da identidade histórica) a partir de sua relação com a ciência.
Neste ponto, Rüsen apresenta uma crítica ao que chamou “Didática da
Cópia”, ou seja, a forma pela qual foi e é realizada a transposição do saber
histórico científico para a forma escolar, que resultou, entre outros, no
banimento dos procedimentos científicos relacionados ao processo de produção do
conhecimento histórico, tais como: a forma de geração de problemas históricos a
partir das carências de orientação da vida prática; a relação entre a
formatação histórica e o público e a função de orientação da vida prática como
algo que influencia a própria produção do conhecimento histórico. Para o autor,
o problema da Didática da História não reside na sua autonomia ou diferença em
relação à ciência da História, mas no estatuto ou natureza desta relação,
abrindo possibilidades para se levar em conta alguns princípios que seriam
constitutivos da epistemologia deste campo de conhecimento, com implicações
para a metodologia do ensino de história. Entre os princípios norteadores, estão:
1.A teoria da história como fundamento para uma teoria da didática específica da
história. 2.A consciência histórica como ponto de partida e de chegada da
aprendizagem histórica. 3.A competência de geração de sentido através da
narrativa como forma e função da aprendizagem histórica. 4.A formação histórica
de sentido como principal problema da aprendizagem histórica.
A teoria da História e a Didática da Educação
Histórica
Em busca da aproximação entre a teoria da História e a Didática da
História, Jörn Rüsen propôs uma matriz da Didática da História, tendo como
referência a sua matriz do pensamento histórico.
Matriz da Didática da História (Jörn Rüsen)
Fonte: Rüsen, Jörn, 2016, p.25.
A matriz sugere a imprescindível relação entre a vida prática dos
sujeitos – professores e alunos - e a ciência da história, quando propõe um
processo de ensino a partir do diálogo entre as condições e as carências de
aprendizagem dos sujeitos. Estes são o ponto de partida e de chegada do ensino
de história, partindo das carências e interesses dos sujeitos, sempre
relacionados ao mundo onde eles estão e poderão ser envolvidos. Estes
interesses levam aos processos de produção da ciência da história, depositários
dos conceitos históricos, sejam eles substantivos (relacionados aos conteúdos
da história), ou epistemológicos (relacionados aos processos cognitivos do
pensamento histórico, tais como evidência e explicação histórica). O percurso em
direção ao método da ciência histórica pressupõe, entre outros, que, na relação
aprendizagem e ensino deve ser percorrido o mesmo processo constitutivo da
produção do conhecimento histórico. Neste caso, por exemplo, o trabalho com
fontes históricas torna-se fundamental como princípio do método de ensino. A educação
bancária, ou seja, o método em que o aluno é mero depositário de conteúdos
previamente selecionados, precisa ser definitivamente abandonado. As formas de
organizar o ensino, a partir dos significados e sentidos atribuídos à aprendizagem
referem-se ao momento em que, tanto quem ensina, quanto quem aprende, assumem o
estatuto narrativístico da ciência da história. O retorno à vida prática indica
o momento em que o conhecimento ensinado e aprendido na e pela narrativa
histórica, revela o significado e sentido de orientação temporal para os
envolvidos no processo de ensino e aprendizado: professores e alunos.
Indica-se, aqui, o cerne da matriz ruseniana da Didática da História, o
processo de construção de sentidos, a partir do conhecimento que produz o
envolvimento dos sujeitos no seu próprio autoconhecimento, no conhecimento do
outro e do mundo.
A matriz da Didática da História sugere uma relação orgânica entre a
teoria da História e a própria Didática da História também no que diz respeito
ao papel do conhecimento histórico científico. Tal relação indica ser
imprescindível que o processo de ensino e aprendizagem da História precisa
consultar a ciência de referência sobre as diversas formas e os diversos
conteúdos pertinentes à aprendizagem, o que não é uma tarefa fácil, segundo o
próprio Rüsen, pois se corre o risco de subordinação e da funcionalização entre
um e outro nesta relação.
A competência de geração de sentido, aprendizagem e
formação da consciência histórica
Em diferentes obras já publicadas em português, Jörn Rüsen tem mostrado
que o trabalho feito pelo historiador na escola é fundamental para a formação
da consciência histórica, ou seja, para o processo de interiorização das formas
de organizar e dar sentidos às experiências temporais individuais e coletivas
dos alunos. As experiências são importantes para a definição e inserção do
sujeito em seu próprio destino. Assim, a História tem a função didática de
formar a consciência histórica, na perspectiva de fornecer elementos para uma
orientação, interpretação (para dentro – apropriação de identidades, e para
fora – fornecendo sentidos para ação na vida humana prática). Esses
pressupostos podem ser referenciais para concepções de aprendizagem que
orientem propostas curriculares de história na sociedade contemporânea,
incorporando, também, o pressuposto inegociável de que qualquer aprendizagem é
autoeducação e inseparável da prática significativa da auto-gestão, em que os
jovens e crianças sejam agentes ativos de sua própria educação.
Cabe enfatizar que não se pode restringir a aprendizagem histórica apenas
à sua dimensão cognitiva. É importante levar em conta o significado extraordinário da dimensão “estética” da constituição
histórica de sentido (e não apenas na era da nova mídia ou apenas entre
crianças e jovens) que acaba por ser amiúde marginalizada, embora sua
significação, dificilmente, poderia ser superestimada. Em comparação com essa
situação, a dimensão “política” não fica de fora por uma razão evidente: o
estado e a sociedade sempre tiveram interesse em tornar a cultura política
profícua para o futuro, na sucessão das gerações, e de reforçar, com isso, os
critérios determinantes da legitimação histórica do poder, e os processos
históricos de escolarização têm contribuído para isto. Também as duas demais
dimensões – a “moral” e a “religiosa” – possuem relevância para a Didática da História
e carecem de análise de sua função didática, pela teoria da história.
Torna-se necessário compreender a consciência histórica como
um processo mental, como um conjunto de operações da consciência (emocional,
cognitivo e pragmático), que difere de outros conjuntos conceitualmente claros
e que, em sua especificidade, podem ser explicitados. Esse processo mental se
expressa, essencialmente, por meio da “narrativa histórica”, que sintetiza as
três dimensões do tempo na representação de um sentido global. "Continuidade"
ou “decorrer do tempo” é a definição categórica desta determinação contínua
fundamental, que combina o processo de formação histórica de significado da
experiência temporal das três dimensões para a unidade de um sentido consistente
de coerência, na comunicação social e auto-compreensão humana, sendo importante
forma de socialização e individualização. Para Rüsen, não há aprendizagem
histórica se não houver uma apreensão de processos de apropriação da própria
experiência, o que pressupõe uma educação calcada na experiência do tempo que
ative, amplie e modifique sentidos acerca dessa experiência, por meio da
narrativa histórica.
Ao dar
centralidade à narratividade histórica como referência para a aprendizagem da
História, Jörn Rüsen indica duas problemáticas a serem confrontadas. A
primeira, diz respeito ao domínio da narrativa pelos professores em aulas de
história e as tentativas de substituí-la por outras formas de comunicação. A
segunda, é a própria teoria da narratividade da história que fundamenta a
relação de dependência entre o ensino de história e a ciência da história.
Reconhecer a formação da consciência
histórica como um processo e a aprendizagem como narrativa pressupõe admitir a
importância de se fundamentar a aprendizagem nas atividades cognitivas do
sujeito que aprende e com as quais todo o ensino da História deve se
relacionar. Como indicam as considerações apropriadas da investigação de
Gevaerd (2009), a Didática da História tem sido mais centrada numa
aprendizagem da recepção de conteúdos previamente selecionados por parte dos
professores, e não tem incorporado a tematização da experiência do sujeito que
aprende, bem como o desenvolvimento de operações mentais próprias do pensamento
histórico, que são necessárias para a elaboração de uma narrativa histórica.
Quais seriam as operações mentais que caracterizariam essa aprendizagem
histórica? Nesse terreno, Rüsen (2012) estabelece contrapontos com autores
alemães como Karl-Ernst Jeismann, que definiu essas operações como a análise, a
avaliação e o julgamento, que ganhariam estatuto histórico ao se relacionarem
com o assunto História. Também a proposta de Rolf Schörken é problematizada
pelo autor, quando esse último afirma que o entendimento dos alunos sobre a história
mundial pode ser passado, não só por meio de conteúdos, mas a partir de uma
tomada de consciência estruturada de pensamento e processos que estão atrás dos
conteúdos e, ao permanecerem ocultos no sujeito que aprende, seriam
determinados por comportamentos relacionados à produção de identidades,
lealdades e simpatias. No entender de Rüsen, tanto as orientações de Jeismann
quanto as de Schörcken, podem ser relevantes como operações da consciência
histórica, apenas quando aparecerem como fatores do processo de formação de
sentido da narrativa histórica.
No entanto, mais do que isso, a aprendizagem deve ser baseada em formas
de pensamento histórico elaboradas pelo sujeito que aprende, e é com essas
formas de pensamento, organicamente ligados ao ato de narrar, que o ensino de
História precisa se relacionar. Segundo estes pressupostos, a aprendizagem
histórica ocorre quando o sujeito desenvolve, por meio da narrativa histórica,
um sentido para a experiência histórica, de tal forma que ele possa orientar a
sua existência em relação a si mesmo e aos outros, no fluxo do tempo. Nesse
sentido, a perspectiva da aprendizagem somente pode se orientar na direção de
que o sujeito é construtor do seu conhecimento.
Não se trata, segundo Rüsen (2012), apenas da "implementação",
"aplicação" ou "mediação" dos conteúdos sob a tutela dos
objetivos ou competências de aprendizagem previamente estabelecidas, mas do
fato de que o próprio ensino e a História encontram seu sentido na vida prática
humana. Assim, o conhecimento histórico e seus processos de aprendizagem passam
a ter uma utilidade vital. Aprender história significa aprender a narrá-la, de
tal forma que, nela e com ela, podemos encontrar o reconhecimento, sem o qual
não gostaríamos de ser ou de poder ser. Ademais, o sentido da história não se
reduz a uma autoafirmação compulsiva ou violenta com todas as consequências
dolorosas para os envolvidos, mas, abre-se a um aumento permanente das
experiências temporais que são processadas em um movimento contínuo, entre a experiência
da diversidade do outro e a afirmação do eu. Esta abertura da consciência
histórica pode ser apreendida pelo fato dos alunos terem recebido,
quantitativamente e qualitativamente, diferentes interpretações temporais da
experiência histórica, de modo que eles obtêm sua autonomia por meio de um ato
de escolha.
Em seu livro – Cultura faz sentido. Orientações entre o hoje e o amanhã
– Jörn Rüsen explicita o significado da formação histórica de sentido como a “quinta-essência dos procedimentos e
das atividades mentais mediante as quais a experiência do passado é
interpretada e atualizada como história” (Rüsen, 2014,p.179). Aqui, o paradigma
da aprendizagem histórica situada na teoria da consciência histórica fundamenta-se
no princípio de que não existe compreensão histórica sem o entendimento do
sentido da mudança temporal. No entanto, esse entendimento necessita ser construído
tendo como referência a inserção do sujeito no presente e a partir de
indagações históricas que possibilitem a significação desse mesmo presente, por
meio do passado. Essa compreensão pressupõe, ainda, que o sujeito aprenda a
estruturar a ideia de tempo cognitivamente, não somente do ponto de vista
individual, mas, principalmente, relacionada à ideia de humanidade.
Para que aconteça a aprendizagem histórica da produção de sentido
histórico, a partir do processamento da experiência temporal, alguns desafios devem
ser assumidos, tais como: incluir a dimensão da interpretação, ou seja, o que
se aprende tem que fazer um sentido para o aprendiz; - a dimensão da
orientação, isto é, o processo da mudança temporal precisa ser articulado “ao
meu tempo, ao tempo do outro e ao tempo do outro que me inclui. Nesse caso, a
questão principal seria – como eu me coloco nesta situação de mudança temporal?”
Significa dar uma versão prática à interpretação do tempo e possui um lado
externo – trata-se do mundo; e um lado interno, o da subjetividade humana. Outra
dimensão é a da motivação, em que o sujeito aprendiz necessita aprender a
situar e inserir os seus objetivos de vida, tanto individuais, como coletivos,
no fluxo do tempo. O que significa isso tudo para a didática da história? –
pergunta Rüsen:
“O aprender histórico se torna translúcido, nos termos da teoria do sentido, para dimensões e fatores que estão presentes tanto no quotidiano quanto numa cultura histórica elaborada e que naturalmente têm atuação determinante em todo e qualquer processo de aprendizagem. A formação histórica de sentido tanto pode ser explorada como dado da vida de crianças e jovens quanto organizada como questão de processos de aprendizagem, e isto de modo ao mesmo tempo elementar e complexo.(...) o que se deve aprender no e com o passado humano é exatamente aquilo que o torna significativo como história, e essa significatividade pode ser aprendida nos modos da experiência, da interpretação, da orientação e da motivação em sua diferença e em sua interconexão.” (Rüsen, 2014, pp185-186)
As forças motrizes dos desafios indicam questões fundamentais para
subsidiar os objetivos da aprendizagem histórica, tais como: o desafio da
experiência histórica – o que eu percebi?; o desafio de compreender o passado
alheio – o que isso significa?; o desafio da orientação da dimensão temporal de
sua própria vida – onde é o meu lugar no tempo? e o desafio de escolher suas
próprias motivações – o que eu posso fazer no futuro? Entre os resultados da
aprendizagem pautada nesses pressupostos estariam a expansão quantitativa e
qualitativa da capacidade de interpretar uma experiência histórica vivida, o
aumento da competência de usar a experiência histórica vivida (conhecimento
histórico) para temporalizar o seu próprio mundo e sua identidade, de conformar
as aspirações individuais a partir de uma ideia empiricamente plausível de
mudança temporal do curso da humanidade no tempo e de motivar os outros a
realizarem suas próprias experiências de acordo com a ideia do lugar de cada um
e do seu lugar no processo de mudança no tempo. (Rüsen, 2012).
O historiador-professor de História
A necessidade de a aprendizagem
histórica ser baseada em múltiplas perspectivas e narrativas é um dos
princípios que devem conduzir o processo de ensino e aprendizagem na
organização das aulas de História. Desse ponto de vista, Jörn Rüsen (2012) não
aceita que a história seja contada pelos outros (o professor) e as competências
narrativas dos alunos sejam consideradas como objetivos pedagógicos antecipados
e tomados como estratégias de adaptação funcional dos conteúdos. Para ele, a
auto-atividade do aluno é fundamental para que ele opere sua identidade de uma
forma discursiva argumentativa, necessária à orientação temporal.
É nessa direção que o principio
metodológico da multiperspectividade nas aulas de história deve ser reconhecido
como essencial, significando que as experiências históricas precisam ser de tal
forma apresentadas, que causem uma identificação com o envolvimento dos alunos,
a partir da divergência entre os diferentes pontos de vista. Desta forma, na
prática do ensino de história, a subjetividade do aluno deixa, na transformação
da experiência que lhe diz respeito (e isso também quer dizer: objetivo), duas
maneiras de aparecer: (a) a primeira é indireta, por meio de uma identificação
com aqueles que foram sujeitos pelo desenvolvimento temático histórico; (b) a
outra, diretamente, por meio da reflexão dos próprios pontos de vista, na
reconstrução do desenvolvimento histórico. Assim, a aula de história não deve e
não pode evitar uma participação prévia, com a qual os alunos trazem seus
próprios pontos de vista e suas perspectivas da interpretação histórica.
A aprendizagem histórica deve levar a um sentido de
compromisso histórico, onde se percebe que, na função de orientação, o que está
em jogo na identidade própria do aluno, é a interação com os outros. Trata-se
de um princípio metodológico fundamental, o de que ensinar História significa
contribuir para que jovens e crianças aprendam narrar a história, de tal forma
que, nela e com ela, podem encontrar o reconhecimento, sem o qual não gostariam
de ser ou de poder ser. Ademais, quem ensina tem que interiorizar o princípio
de que o sentido da história não se reduz a uma autoafirmação compulsiva ou
violenta com todas as consequências dolorosas para os envolvidos, mas, abre-se
a um aumento permanente das experiências temporais que são processadas em um
movimento contínuo, entre a experiência da diversidade do outro e a afirmação
do eu. Esta abertura da consciência histórica pode ser apreendida pelo fato dos
alunos receberem diferentes interpretações da experiência histórica, de modo
que eles obtêm sua autonomia por meio de um ato de escolha.
A matriz da Didática da História de Jörn Rüsen foi tomada
como referência para uma proposta de metodologia do ensino que foi incluída nas
Diretrizes Curriculares para o Ensino de História da Rede Municipal de Ensino
de Curitiba, Paraná, com a denominação de “Aula Histórica”.
Matriz da aula histórica
Fonte: Matriz da Didática da História de Jörn Rüsen (2016).
Adaptado por Schmidt, M. A.
A proposta da Aula-Histórica estrutura-se a partir de um processo que
obedece a determinados fatores e que, na prática da aula de história, ocorrem
de forma interdependentes. Esta matriz foi referência para a metodologia de
ensino de um Curso de Extensão Universitária - Metodologia de ensino-aprendizagem e
avaliação em temas sociais controversos da História destinado a
alunos do curso de história e professores da rede pública de ensino de Curitiba
e que teve como perspectiva de trabalho a metodologia da pesquisa em colaboração.
O curso foi realizado entre abril e novembro de 2017, com uma carga horária de
99 horas aula, sendo 64 teóricas e 35 práticas. Participaram 45 professores e
10 alunos. Foram realizados 8 encontros mensais de 8 horas cada, em que, num
primeiro momento, foram disponibilizados e discutidos textos teóricos sobre as
temáticas trabalhadas, Os professores foram desafiados a desenvolver
experiências em sala de aula, que pudessem ser sistematizadas, teorizadas e
apresentadas ao coletivo do grupo, durante os encontros. Como atividade final,
foi organizado o IV Seminário de Educação Histórica da Rede Municipal de
Educação de Curitiba, no final de novembro e início de dezembro de 2017.
Por que a opção pelos temas controversos da
História e a pesquisa em colaboração?
A presença de temas sociais controversos na educação escolar
tem sido objeto de preocupação no Brasil e em outros países. Em nosso país, já
em 1980, a Secretaria de Ensino de 1º. e 2º Graus do Ministério da Educação e
Cultura produziu e publicou a série Controvérsias na História do Brasil,
constituída de cadernos destinados a professores e alunos da escola básica,
onde propunha novas abordagens de conteúdos e metodologias de ensino acerca de
temas como Escravidão Brasileira e As tentativas de Industrialização no Século
XIX. (Brasil/MEC,1980). Enfoques e propostas de conceituação do que seriam
temas controversos, bem como investigações relacionadas com a temática e os
processos de escolarização, vem sendo encetados por investigadores de diferentes
países, como Bodo von Borries na Alemanha, e as pesquisas sobre a “burdening
history” ou “história tensa” (2011) e Terrie Epstein e Carla Peck, nos Estados
Unidos, com o conceito de “história difícil” (2015 ). Na França, pesquisadores
como Alain Legardez / Lawrence Simonneaux (2006) e Benoit Falaize (2014) têm
indicado resultados de pesquisas que permitem identificar dificuldades
escolares relacionadas também a temas delicados, sensíveis ou controversos da
história europeia recente, como a Shoah e as Guerras de Descolonização.
Ademais, a sociologia da educação, como os trabalhos de François Dubet (2003;
2005) tem sugerido a importância de investigações que problematizem e indiquem
caminhos para a construção de uma escola mais justa, em que o tipo e a forma
das relações das crianças e dos jovens com o conhecimento não influenciem,
também, a multiplicação das desigualdades sociais.
Ao se tratar de ensino/aprendizagem e avaliação dos conhecimentos
da e sobre a sociedade, torna-se importante explicitar a especificidade dos
conceitos substantivos e conceitos epistemológicos. Os primeiros, referem-se
aos conteúdos específicos acerca da realidade social. Os segundos dizem
respeito à forma como se constroem estes conhecimentos, isto é, como se
aprende, que significados e características apresentam como fundamentos
metodológicos para o seu ensino, bem como que sentidos os sujeitos atribuem ao conhecimento
aprendido. (Charlot, 2000).
Os pressupostos assinalados,
orientaram a delimitação de alguns aspectos que foram levados em consideração
para o encaminhamento do curso. Entre eles, destacam-se: - A configuração da relação entre
metodologias de ensino e a aprendizagem de temas sociais controversos, em
diferentes elementos da cultura escolar, tais como currículos, manuais
didáticos e processos de avaliação como aqueles destinados ao ingresso nas
universidades; - A forma pela qual a relação entre metodologias de
ensino-aprendizagem para os temas sociais controversos são consideradas nos
elementos da cultura da escola, tais como práticas docentes e discentes; - A
diferentes maneiras pelas quais professores, crianças e jovens em situação de
escolarização se relacionam com o conhecimento específico dos temas sociais
controversos e, em que medida, essa relação está colaborando para a inclusão e
não para a multiplicação das desigualdades pela escola; - As possibilidades e significados
da avaliação no processo de permanência e mudança de conteúdos e metodologias
de ensino-aprendizagem dos temas sociais controversos para a escola e os
sujeitos no universo escolar; - Limites e possibilidades de experiências
inovadoras de metodologias de ensino-aprendizagem e avaliação em temas sociais
controversos constituírem propostas de formação inicial e continuada de
professores da escola básica; - Limites e possibilidades de experiências
inovadoras de metodologias de ensino-aprendizagem e avaliação de temas sociais
controversos a serem desenvolvidas no cotidiano escolar, a partir de
experiências compartilhadas digitalmente.
Tendo como suporte estas
considerações, buscou-se construir a metodologia do curso a partir da proposta
do trabalho com a pesquisa colaborativa.Tomou-se como referência os princípios
das abordagens qualitativas (Lüdke & André,1986), com a perspectiva da pesquisa
colaborativa (Ibiapina,2008) e os encaminhamentos da “indagação qualitativa”
(Eisner, 1998), buscando-se responder às seguintes questões: Que significados a
produção do conhecimento pode ter na relação teoria e pratica docente,
considerando que algumas propostas de formação têm privilegiado a transformação
do ensinar em pesquisar? Como equacionar o predomínio da imediaticidade nos
processos de formação de professores, considerando-se, por exemplo, a maneira
pela qual as chamadas “troca de experiências ” , “conhecimentos relacionados à
experiência prática”, são requisitados em cursos de formação inicial e
continuada? Em que contextos se poderia propor uma formação continuada de
professores, considerando o conjunto de dificuldades e problemas bastante
conhecidos, tais como a falta de horário para atividades relacionadas à
formação continuada, as relações complexas que existem entre os professores, os
sistemas de ensino e, os projetos de formação continuada como aqueles
oferecidos pelas universidades?
O objetivo principal foi superar a diferença entre
“acadêmicos” e “práticos” que, historicamente, tem acompanhado as relações
entre a formação de professores nas Universidades e as representações dos
professores da escola básica. Na perspectiva desenvolvida no projeto, os
professores que participam do grupo do Lapeduh, são considerados autores e
co-autores de trabalhos, artigos e capítulos de livros, apresentam suas
investigações em eventos nacionais e internacionais no campo da Educação e no
Ensino de História, situando-se, portanto, como produtores de conhecimento
sobre o ensino, sobre os conhecimentos escolares de História, apropriando-se
gradativamente de instrumentos cognitivos que permitem romper o tipo de relação
dominante em que os professores universitários monopolizam os meios de produção
intelectual.
Resultados
A realização do IV Seminário de Educação Histórica da Rede Municipal de
Ensino de Curitiba foi o ponto culminante do curso, seguindo uma tradição que
completou 4 anos em 2017, os professores foram estimulados a apresentarem seus
trabalhos durante o evento. Dos 45 professores inscritos, 25 conseguiram
apresentar suas experiências durante os encontros do curso, mas, somente 12
chegaram ao final do processo, com a apresentação no Seminário. Como vem sendo
discutido no âmbito das propostas de formação inicial e continuada de
professores, vários fatores contribuem para dificultar as mudanças nas relações
dos professores com o conhecimento e também com a sua produção. De um lado, os
baixos salários e uma carga horária excessiva em sala de aula - a maioria dos
professores ministra cerca de 30 horas semanais e muitos precisam aumentar a
carga horária para complementar seus salários; dificuldades na organização dos
horários nas escolas para que eles possam cumprir o preceito legal de usufruir
das 4 horas semanais chamadas hora-atividade. Este tempo deveria ser destinado
a atividades de aperfeiçoamento profissional. Em muitas escolas, a falta de
professores vem trazendo prejuízos ao cumprimento da própria lei.
De outro lado, devido a estas condições objetivas e ao processo
histórico de separação entre aqueles professores que são reconhecidos como
produtores de conhecimento, ou seja, investigadores, e aqueles cuja imagem é
construída como destinado a ser o que faz uma "boa transposição do saber
científico em saber escolar", observa-se a permanência de uma auto-imagem
do professor, em que ele tem dificuldades em se ver e a agir como investigador.
Neste sentido, o fato de 25 professores terem apresentado suas experiências e
11 atingirem o objetivo final do curso, merece ser destacado.
Quadro 1 - Trabalhos apresentados no IV Seminário
A África na história da formação do mundo Atlântico. (Superando visões
eurocêntricas no ensino de História)
|
Aluno: Ádrian W.S.Netzel
|
Nazismo e neonazismo no Brasil. Questões controversas da História em
narrativas de estudantes.
|
Prof. Alecsandro D.Vieira
|
A Reconstrução da consciência histórica de jovens alunos sobre a
demarcação das terras indigenas no Brasil.
|
Profa. Claudia S.Caramez Alunos: Hector Molina/Isabela Brasil/Milena
Dell'Aglio
|
Totalitarismo e intolerância
|
Profa. Giselia dos Santos de
Melo Gonçalves
|
Holocausto no Ceará: um tema controverso da história do Brasil.
|
Profa. Jucilmara Luiza Loos Vieira
|
A infância e o trabalho infantil ontem e hoje
|
Profa Marcia Moreira
|
Direita e esquerda no Brasil
|
Prof. Paulo R. Chevonica Jr.
|
Cidadania nos sistemas de governos brasileiros: uma história
controversa
|
Profa. Patrícia Rodrigues
|
A ideologia do trabalho infantil nas falas das
famílias dos estudantes
|
Profa. Rosimeri Becher
|
Narrativa autobiográfica e história geracional: uma perspectiva de
pesquisa e avaliação em educação histórica
|
Prof. Sandro Luis Fernandes
|
Racismo e respeito: trabalhando as fronteiras
sociais dessas duas palavras.
|
Profs. Sonia C.Rado e Marcio de
F.Tomaz
|
Fonte: SMED (2017) : IV Seminário de
Educação Histórica, Caderno de Resumos.
Cabe destacar que os temas selecionados pelos professores estão
diretamente relacionados aos conteúdos pertencentes aos respectivos currículos
de suas escolas. São exemplos os temas que dizem respeito a totalitarismos e
nazismo. Questões como aquelas relacionadas a indígenas e afrodescendentes
também estão presentes nas salas de aula, devido à obrigatoriedade de trabalho
com estes conteúdos, prevista pela lei 10.639 de 2003. Os temas da cidadania,
trabalho infantil e história geracional, ainda que não previstos de forma
objetiva nas propostas das escolas, estão incluídos em manuais e nas diretrizes
curriculares nacionais.
No entanto, é importante ressaltar que a maneira
como os conteúdos foram abordados pelos professores, no intuito de revelar
aspectos conflituosos e problemáticos da relação passado/presente e futuro, bem
como valorizar os sentidos conferidos pelos alunos como um caminho de leitura
das fontes e da produção historiográfica, confere uma nova dimensão à sua
aprendizagem e ensino. Por exemplo, o tema do holocausto, que foi abordado por
uma professora, a partir de uma experiência brasileira, qual seja a dos 7 campos
de concentração que foram construídos no Brasil, no estado do Ceará, em 1932,
para recolher pessoas oriundas do interior do estado, que iam para a capital
Ceará, fugindo da seca. A professora apresentou aos alunos a pergunta -
Existiram campos de concentração no Brasil? A maioria - 90 alunos - respondeu
que não. A seguir, ela apresentou fontes iconográficas e escritas que
documentavam a existência dos campos que abrigavam retirantes da grande seca de
1932, problematizou e produziu interpretações a partir das fontes. Para
finalizar, a professora que eles produzissem narrativas em forma de literatura
de cordel.
FONTE: Vieira, J. L. L.
Campos de concentração no Ceará como tema controverso da História. SMED, IV
Seminário de Educação Histórica, 2017.
A guisa de exemplo, este
trabalho, como outros desenvolvidos pelos (as) professores (as) contribuiu para
enriquecer a perspectiva da aprendizagem e ensino sugerida na matriz da Aula
Histórica. O tema dos campos de concentração durante o nazismo na Alemanha é um
conteúdo presente nos programas escolares e manuais didáticos. No entanto, não
há nenhuma referência a situações brasileiras que, de alguma forma, apresentem
semelhanças e diferenças com a experiência alemã. No caso específico, a relação
com história da experiência cearense está absolutamente ausente dos manuais
didáticos, mas, presente na memória de muitos brasileiros. A inclusão da
categoria memória na matriz da Didática da Educação Histórica torna-se
imperativa, quando se trata de trabalhar temas controversos da História, e
"a narração da história está bloqueada pela pressão psicológica do
indivíduo ou pelos tabus sociais da comunidade". (Asmann, 2011, p.349).
Considerações finais
A mudança de paradigma sobre a aprendizagem e, portanto,
sobre o ensino de história, trouxe importantes consequências para o
desenvolvimento de propostas no ensino de História, ao indicar a consciência
histórica como lugar da aprendizagem, colocando novas questões do ponto de
vista conceitual e de elaboração teórica. Partindo do pressuposto básico de que
a consciência histórica é o lugar da aprendizagem, as investigações têm tido a
preocupação com questões como as que envolvem a definição, a conceituação, a
elaboração, investigar as funções, abordar as condições, forças motrizes e
consequências das ideias históricas presentes na cultura escolar, seja nas
ideias de professores e alunos, seja em outros lugares da cultura escolar, como
os manuais didáticos e currículos.
As trilhas do pensamento ruseniano apontam para a
importância de se pensar a formação da consciência histórica na perspectiva de
uma didática humanista da história, pois
“O trabalho da didática da história não pode ser entendido ou desenvolvido sem uma consciência de seu papel na cultura histórica de seu tempo. Ele tem de perceber e de responder aos desafios da orientação histórica, especialmente no que diz respeito ao aprendizado histórico e sua realização em diferentes instituições, principalmente na escola.” (Rüsen, 2015:p.19).
Tais pressupostos instigam novas temáticas a serem
debatidas, como o próprio significado que estas pesquisas trazem para a Didática
da História, seu escopo teórico, natureza e dimensões.
O diálogo entre
as atividades que o historiador faz ao fazer a história e o que ele faz quando
ensina a história, a partir de interfaces com a teoria da história de Jörn
Rüsen não pode ser acolhido como a solução ou o modelo definitivo para a
Didática Específica da História. A partir do trabalho desenvolvido de forma
colaborativa com professores de História, propõe-se que seja mais uma contribuição ao instigante debate
que se instaurou desde a separação entre a história escolar e a história
acadêmica. Neste sentido e em acordo com
Rüsen (2007), importa que a aprendizagem histórica desenvolva a capacidade de
se adquirir a constituição narrativa de sentido, como uma aprendizagem de
resignificar, continuamente, as experiências temporais da vida prática,
desenvolvendo, de forma complexa e científica, a cognição propriamente
histórica. Concorda-se, também, com este autor, que trata-se de um processo da
consciência histórica e como ele é apreendido e efetivado, não é uma questão da
didática da teoria da História, mas da Didática da História – uma disciplina da
ciência da História, mas relativamente independente da teoria da História.
Neste e para este processo, se direcionam as reflexões e investigações acerca
da aprendizagem histórica que poderão
orientar a metodologia de ensino para os historiadores quando ensinam a
História.
O
recorte específico em torno dos temas controversos da História aponta para a necessidade de
consolidação de
uma Didática da História,
em que os conhecimentos necessários à produção do pensamento histórico sejam
articulados a um projeto de educação pensado na perspectiva da insegurança da
identidade histórica, das pressões relacionadas à diversidade cultural, das
críticas ao pensamento ocidental e de uma nova relação com a natureza e com o outro, pois essa relação é
fundamental para a compreensão do mundo. Uma necessidade que precisa ser
articulada a um sentimento de urgência de se pensar para além dos embates
herdados da separação entre a Didática da História e a História acadêmica, na construção do historiador
professor.
Referências
Professora e
pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
do Paraná. Pesquisadora PQ 1CNPq. Este trabalho faz parte de projeto financiado
pelo Cnpq. dolinha08@uol.com.br
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Ola boa noite professora Auxiliadora Schmidt sobre a "separação entre a Didática da História e a História acadêmica, na construção do historiador professor" como acontece a relação entre as duas citadas acima com o saber escolar na pratica de fora que contribua no processo ensino aprendizagem histórica?
ResponderExcluirdigo forma e não fora
ResponderExcluirBoa Tarde!
ResponderExcluirProfessora, sou acadêmico do 2º período do Curso de Licenciatura em História da UFT e gostaria que explicasse melhor as diferenças entre os conceitos Teoria da História e Ciência da História. Abraço!
Wedster Felipe Martins Sabino
Neste trecho: "(...)o que se deve aprender no e com o passado humano é exatamente aquilo que o torna significativo como história(...)." O autor se refere ao que torna o passado significativo, ou ao que é significativo ao sujeito, ao aluno?
ResponderExcluirWedster Felipe Martins Sabino.
Boa tarde professora, excelente texto.
ResponderExcluirSobre esta última passagem: "O recorte específico em torno dos temas controversos da História aponta para a necessidade de consolidação de uma Didática da História, em que os conhecimentos necessários à produção do pensamento histórico sejam articulados a um projeto de educação pensado na perspectiva da insegurança da identidade histórica, das pressões relacionadas à diversidade cultural, das críticas ao pensamento ocidental e de uma nova relação com a natureza e com o outro, pois essa relação é fundamental para a compreensão do mundo. Uma necessidade que precisa ser articulada a um sentimento de urgência de se pensar para além dos embates herdados da separação entre a Didática da História e a História acadêmica, na construção do historiador professor", a senhora acredita q esta articulação não poderia ser pensada no campo da Esfera Pública no sentido de buscar perceber como os referenciais históricos dos estudantes se formam ali e como podemos pensá-los em sala de aula e aí buscar a partir destes referenciais elaborar um projeto educacional?
Grata. Helena Ragusa
Prezada professora, é sempre um prazer ler seus textos, que me acompanham desde a graduação. Ao longo dos anos, tenho me dedicado a pesquisa sobre relações entre história e memória, e um dos autores fundamentais para meu trabalho é Paul Ricoeur. Suas considerações sobre narrativa histórica, no livro Tempo e Narrativa v.III, me parecem interessantes para pensarmos o papel da competência narrativa proposta por Rüssen, no entanto Ricoeur não é um autor muito utilizado por pesquisadores da área de ensino de história. Seria possível estabelecer um diálogo entre esses dois autores? Penso que a noção de "conectores" (característica da história) estabelecidas por Ricoeur como peça central para distinção entre narrativa histórica e ficcional seria interessante para pensar o papel da narrativa na aprendizagem histórica.
ResponderExcluirAgradeço a atenção.
Eduardo Roberto Jordão Knack