Janaína Guimarães da Fonseca e Silva

“DOUTRINAÇÃO” NAS ESCOLAS E UNIVERSIDADES? DESAFIOS ATUAIS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA


''Quem quer que negue a evidência da doutrinação deve ser imediatamente excluído da discussão''. Essas palavras são de Miguel Nagib, advogado, criador e coordenador do Movimento Escola Sem Partido, pronunciadas na apresentação de um dos projetos de Lei do movimento, na Câmara de Vereadores de São Paulo, em 7 de dezembro de 2017( NOVA ESCOLA, 2017).  O objetivo desse texto é discutir o que é chamado de “doutrinação” nas escolas e universidades por esse grupo, e pensar os desafios atuais para ensino de história a partir da proliferação dessas idéias, que tentam alterar os objetivos da educação e da nossa legislação.  Nossas fontes para a análise são reportagens sobre o Escola Sem Partido (ESP), o próprio sítio oficial do movimento, projetos de leis elaborados pelo ESP, nossa Lei de Diretrizes e Bases da educação (1996) e a Constituição Federal (1988).

As bases para essa fala do Miguel Nagib sobre a “doutrinação” são, na verdade, um conjunto de relatos esparsos que foram obtidos numa pesquisa de 2008, encomendada pela revista Veja ao instituto CNT/sensus. (VEJA, 2008) Essa pesquisa, citada pelo advogado para justificar suas críticas às ações de professores e professoras, apresenta relatos de pais e mães, alunas e alunos que falavam sobre “doutrinação”, descrevendo o que seriam supostas situações nas quais ocorria. Esses relatos não trazem nenhuma informação estatística, nem explicam como se deu a construção dos dados, a metodologia e as margens de erros da pesquisa. As citações que predominam nesses relatos são denúncias de professoras e professores que elogiavam em sala de aula figuras de esquerda da luta socialista, como Che Guevara.

No sítio virtual do  Escola sem Partido são citados 33 relatos de doutrinação no Brasil inteiro, um país que possui mais de 45 milhões de estudantes.  Nos cabe, então, perguntar o que esse grupo entende por “doutrinação”? E a quem interessa essa produção de verdade? A nossa análise do Movimento Escola Sem Partido se deve à ação desse grupo na formulação de projetos de lei que estão circulando nas câmaras de vereadores do país. As criticas desse movimento também foram ouvidas nas discussões acerca dos planos estaduais de educação, bem como já se fizeram presentes desde 2014 nas discussões para a aprovação do Plano Nacional de Educação.

Então a primeira coisa que precisamos saber é o que essas pessoas chamam de “doutrinação”.  O sítio oficial do Movimento ESP afirma que as escolas estão vazias de professores e professoras, mas repletas de doutrinadores. Nelas, bem como nas Universidades, estão militantes e não educadoras e educadores, até porque um dos slogans do movimento é que “professor não é educador”, pois para os membros e adeptos do ESP, cabe apenas à família educar, não aos docentes.

O sítio eletrônico do Escola Sem Partido tem várias abas nas quais ensina como denunciar um doutrinador, também podemos encontrar ali as concepções que têm de educação e o que entendem como “doutrinação”.  Então a análise desse conteúdo nos é importante para que compreendamos o que tem sido divulgado por esse grupo, que tem elaborado projetos de lei que tentam coagir a ação de professores e professoras no país.  Para nossa análise utilizamos os métodos de análise de conteúdo de Bardin (1977), focando na repetição de termos como “doutrinação”, “militantes”, “esquerda”, “denúncia”, “família” e outros que destacam-se nos textos do sítio.

Uma fala corrente nos escritos do Escola Sem partido é a que afirma que aumenta a cada dia a doutrinação nas escolas e Universidades do País. Uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2017, pelo Datafolha, demonstra que os brasileiros e brasileiras estão mais afinados/as com as idéias de direita do que com as idéias de esquerda no que se refere a comportamento, valores e economia (DATAFOLHA, 2017). Então esse avanço da direita demonstra que não há respaldo para que o Escola Sem Partido fale dessa intensificação de uma “doutrinação” esquerdista, como se docentes fossem seres que não respondessem à lógica geral da população brasileira. A maioria dos professores e professoras não são necessariamente de esquerda, não tem necessariamente essas posturas, na verdade a intencionalidade por trás desse discurso é o que  precisamos compreender.  A quem ou a que tipo de projeto interessa uma escola que não produza cidadãos e cidadãs capazes de uma leitura crítica de mundo? Ou uma Universidade que só construa conhecimento a partir da técnica e não da ética?

Por trás dessas falas vemos um projeto neoliberal para a educação brasileira, projeto que se faz claro a partir dos aliados e financiadores do projeto Escola Sem Partido, desde empresários da educação privada, até políticos da bancada da Bíblia, do Banco e da Bala, cujas ações em nada têm relação com a construção de uma realidade de bem estar social em nosso País.

O que pretendem, construindo um estado de vigilância nas escolas e uma judicialização da sala de aula, por meio de denúncias e processos, é coibir a educação tal qual prescrita na nossa LDB, uma educação com Liberdade de Cátedra. Além de incentivar a desvalorização e o ódio aos professores (PENA, 2016) A má interpretação ou a leitura enviezada e descontextualizada de textos e de pensamentos de alguns dos nossos maiores educadores, são prática comum entre os mambros e seguidores do ESP. No sítio, por exemplo, eles trazem um texto do Moacir Gadotti :

“Todavia o traço mais original desse século é o deslocamento de enfoque do indivíduo para o social, para o político e para o ideológico, a pedagogia institucional é um exemplo disso. A experiência de mais de meio século de educação nos países socialistas também eu testemunho, a educação no século XX tornou-se permanente e social.” (GADOTTI: 2000. p. 4)

Esse texto citado no sítio do Escola Sem Partido como sendo exemplo de  uma educação  enviezada, a partir de uma perspectiva comunista, na verdade está sendo totalmente tirado do contexto. O escrito de Moacir Gadotti e vai trabalhar justamente os avanços da perspectiva educacional e a preocupação em se pensar o todo, a sociedade, não apenas o indivíduo. Contudo, a forma como ele é recortado, quer dar a entender que o Moacir Gadotti, assim como outros educadores que são ali citados, estão em defesa de uma educação acrítica e de um regime socialista. Essa mesma adulteração já tem sido feita a vários educadores e educadoras que respaldam a educação brasileira, a exemplo de Marilena Chaui. Contudo, uma das figuras que é mais atacada pelo Escola Sem Partido é o Paulo Freire, tido como o grande ‘concebedor’ dessa  perspectiva doutrinadora.

Se a critica à educação tal qual prescrita em nossa legislação é uma constante, o que o Movimento entende por educação? Como esta deve ocorrer? Retiramos então as palavras do sítio eletrônico:

Cabe à família o papel principal nesta tarefa educativa e a ela que determina os princípios básicos para a formação da personalidade da criança, cabe aos demais grupos sociais o respeito ao que a família constrói e ao exercício do convívio num grupo mais amplo, nesse sentido a escola é um ambiente de adaptação da criança a uma nova realidade, mantendo os valores que ela traz de casa, e estimulando  novas formas de convívio.

A grande questão é que a nossa educação, tal qual pautada pelo estado, tem princípios básicos, e não há garantias que todas as famílias consigam prover uma educação baseada nesses princípios, ou seja, a nossa educação, tal qual pautada pelo estado tem que ser plural, respeitosa e inclusiva.  É isso que pauta tanto a nossa constituição quanto a LDB.  Ainda que resguardado o direito de cada família de educar seus filhos e filhas da forma que quiser, quando chegam à escola precisam receber as bases do que são os interesses do Estado para educação, e isso inclui perspectivas não-homofóbicas, não-racistas, e não violentas. Digamos que uma família seja homofóbica ou racista e assim eduque seu filho;  essa criança ao se deparar com com a sociedade não vai responder às práticas daquela sociedade ou daquele Estado, que é uma convivência respeitosa entre os sujeitos. Então é sim papel das escolas, das universidades, da educação tal qual oferecida pelo Estado, pautar todos esses princípios para que aqueles indivíduos, que são educados nas suas famílias de forma específica e autônoma, saibam se comportar dentro do ambiente social e dentro de uma perspectiva plural.

Uma das críticas que me parecem mais ofensivas dentro do sítio do Escola Sem Partido, é a idéia de que hoje o “politicamente correto” proíbe a menor menção vexatória à religiões, culturas, raças, e opções sexuais, como se o politicamente correto tivesse um sentido negativo. Como, por exemplo, não fazer uma piada ofensiva ou não ter práticas excludentes fosse uma coisa negativa.  Na perspectiva desse grupo você deveria ter a liberdade para poder continuar fazendo piadas sobre negros, homossexuais, mulheres e todos os sujeitos historicamente tratados como minoria nesse país.

Dentro do sítio existe uma aba chamada “flagrando o doutrinador”, onde são listadas atitudes tidas como “doutrinação”. O que nos chama atenção são as afirmações sobre a escolha dos livros, segundo o sítio, um professor doutrinador “adota ou indica livros, publicações e autores identificados com determinada corrente ideológica”. Qual a produção ou pesquisa histórica isenta? A neutralidade tampouco é principio em nossa produção de conhecimento, nossas opções teóricas estão relacionadas diretamente com nossa forma de ver o mundo. Não podemos, claro, deixar de pontuar que toda abordagem histórica é uma escolha, o que é bem diferente de afirmar não ter uma. O professor que “se desvia freqüentemente da matéria-objeto da disciplina para assuntos relacionados ao noticiário político ou internacional”, também é apontado como doutrinador. Como se a história e seu ensino pudessem ser desvinculados da realidade.

A educação brasileira não é uma educação neutra.  Nenhuma educação deve ser educação neutra, mas sim pautada nos princípios constitucionais. O que o Estado entende que é fundamental para dirimir as desigualdades e construir uma nação que respeite e se identifique com sua pluralidade. Então, nas palavras de Ximenes, no texto “ O que o direito à educação tem a dizer sobre ‘escola sem partido’?”:

“Primeiro porque ‘’neutralidade’’ não é um valor constitucional, já que é incompatível com a própria definição de Estado Democrático de Direito, que tem no seu estabelecimento de objetivos políticos como construir uma sociedade livre, justa e solidária, e promover o bem de todos sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação, isso fala na constituição no seu Art 3”. (XIMENES, 2016: 52)
Então a nossa educação tem que ser voltada para esses princípios constitucionais. Um dos assuntos que mais chama a atenção é a preocupação ou a perseguição ao que essas pessoas chamam de “ideologia de gênero”, e como ela está presente nas escolas, então existe, também, dentro do próprio sítio eletrônico, um anteprojeto de lei contra essa “ideologia de gênero” nas escolas que nós também vamos observar aqui. Mas o que seria essa abordagem de gênero tão temida? E mais, o que seria essa “Ideologia de gênero” falada na lei?

Primeiramente devemos compreender que não existe “ideologia de gênero”. Esse conceito, fundado por grupos conservadores, que falseia categorias explicativas elaboradas na academia, tem como intenção excluir a diversidade do espaço escolar e a problematização das desiguais relações de poder que se estabelecem entre o que a sociedade compreende como feminino e masculino.  Falar de uma “ideologia de gênero” é negar que as demais concepções de educação, sexualidade e família, são também ideológicas, pois construções sociais; e assim também negar que nomeamos o mundo de forma múltipla e diversa.

Pelo proposto nesse projeto de lei presente no sítio eletrônico do Escola Sem Partido, a heteronormatividade compulsória estará resguardada, em todos os seus aspectos, na medida em que essas relações não serão debatidas, nem os sujeitos LGBTTQIs visibilizados enquanto partícipes de uma sociedade e escola diversa.  E pior, ao calar, ela invizibiliza a discriminação que essa população sofre, tanto dentro, quanto fora das escolas. Incluindo a não aceitação de outras formas de nos relacionarmos com nossa sexualidade e o entendimento de múltiplas concepções familiares, para além do aceito por concepções religiosas conservadoras. Negar esse debate nas escolas é corroborar para continuidade da eliminação de corpos LGBTTQIs, especialmente de travestis, transgêneros e transexuais que tem menor expectativa de vida no Brasil.

“A ampla disseminação da falsa premissa da “ideologia de gênero”, vista como a desconstrução dos papéis de gênero tradicionais e, por consequência, da família, dentro dos ambientes educacionais, despertou uma espécie de pânico moral, retrocesso e demonização do “inimigo”, quando o que se pretendia com a “promoção da igualdade [...] de gênero e de orientação sexual” era simplesmente contribuir para “a superação das desigualdades educacionais” (BRASIL, 2012d) que comprovadamente existem entre os gêneros, em consonância com as décadas de debates, acordos e políticas públicas estabelecidos democraticamente a fim de promover a equidade de gênero” (EGGERT, 2017:20).

Para compreender as distorções conceituais presentes nesse projeto de lei, bem como a insconstitucionalidade dos atos nela propostos, temos que analisá-la à luz de nossa Constituição Federal de 1988, e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996. Com relação à Constituição Federal, essa lei fere os direitos a igualdade (art. 5o, caput), à vedação de censura em atividades culturais (art. 5o, IX), à laicidade do estado (art.19, I), à competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV), ao pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas (art. 206, I) e ao direito à liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 206, II).

 A primeira coisa que devemos frisar é que no âmbito educacional cabe à União legislar, e não ao município, sobre as leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Uma lei menor não pode vetar, ou negar, algo presente numa lei maior, no caso nossa Constituição. É preciso ficar atento em como está organizado o currículo da educação básica. Este se organiza em áreas disciplinares agremiadas em macro campos do conhecimento, cotando também com uma área diversificada. As questões de gênero e sexualidade devem, então, transversalizar todos os campos curriculares. Também desrespeita a competência privativa da União para legislar  sobre Diretrizes e Bases da educação nacional, já citada, quanto à liberdade de cátedra ao proibir que educadoras e educadores possam escolher, dentro dos limites do Programa Nacional do Livro Didático, o material que mais lhes parecem adequados.

 O projeto também incorre em dois problemas sérios, que precisam ser frisados. O primeiro é a censura, pois o art. 5o, IX, da Constituição da República, assegura ser livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. Esse
preceito conjuga-se com o art. 220, § 3o, segundo o qual “é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. O segundo problema é o estímulo à denúncia e controle entre pares. As educadoras e educadores fariam, então, papel de vigias e fiscais de seus iguais, estimulando denúncias e obrigando-as, assim, a incorrerem contra a liberdade de expressão e de cátedra, desvirtuando o verdadeiro papel da gestão escolar que seria auxiliar nas demandas pedagógicas e administrativas da comunidade escolar.

Por fim, devemos lembrar que o Plano Nacional de Educação não tem poder de vetar a abordagem de gênero nas escolas, pois é um documento estratégico, que estabelece as metas decenais (2014-2024) do nosso sistema educacional, mas que não se sobrepõe à Lei de Diretrizes e Bases, nem à nossa constituição.

Lembramos, por fim, que direito à educação para a igualdade de gênero, raça, orientação sexual e identidade de gênero têm base legal na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/1996), nas Diretrizes Nacionais de Educação e Diversidade, nas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio (art. 16), elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação, e na Lei Maria da Penha (2006). Esse direito também está previsto nos tratados internacionais de direitos humanos com peso de lei dos quais o Brasil é signatário.  A perseguição à aclamada “doutrinação”, não é mais do que uma tentativa de ferir e extirpar o pensamento crítico na educação Brasileira, retirando de professores e professoras, não só de História, mas das diversas disciplinas, a autonomia na construção de conhecimentos em sala de aula.

Referências
Profª Dra. Janaina Guimarães da F. Silva é Professora Adjunta do colegiado de História da Universidade de Pernambuco-campus Mata Norte e do Programa de Pós Graduação em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares (PPGFPPI)- campus Petrolina

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 1977.

BIESTA, Gert. Boa educação na era da mensuração. Cadernos de Pesquisa, v. 42, n. 147, p. 808-825
set./dez. 2012

BRASIL, Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Imprensa
Oficial, 1988.

_________. Ministério da Educação. Resolução nº 2, de 1 de julho de 2015, defini as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de
formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada.

Conselho Nacional de Educação: Conselho Pleno, 2015a. Disponível
em:<www.ead.unb.br/index.php/todas.../140-resolucao-n-2-de-1-de-julho-de-2015-cne>. cesso em:
13 set. 2016.

_________.Plano Nacional de Educação (PNE). Plano Nacional de Educação 2014-2024: Lei nº
13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras
providências. 2ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2015b. Série Legislação n. 193.  Disponível em: <bd.camara.gov.br/bd/.../bdcamara/.../plano_nacional_educacao_2014-2024_2ed.pdf>. Acesso em: 10 set. 2016.

DATAFOLHA, Instituto de Pesquisas. Lula lidera no 1º turno; Bolsonaro cresce e empata com
Marina em 2º. 02 maio 2017. Disponível em:
<http://datafolha.folha.uol.com.br/eleicoes/2017/05/1880342-lula-lidera-no-1-turno-bolsonaro-crescee-empata-com-marina-em-2.shtml> . Acesso em 10 jun 2017.

EGGERT, Adla; REIS, Tony; Ideologia de Gênero: uma falácia construída sobre os planos de educação brasileiros. Educ. Soc., Campinas, v. 38, nº. 138, p.9-26, jan.-mar., 2017, p.20.

ESCOLA SEM PARTIDO. Educação sem doutrinação. Conteúdo disponibilizado em todo o sítio.
Disponível em: <http://escolasempartido.org/>. Acesso em 20 de fevereiro de 2018.

PENNA, Fernando. O ódio aos professores. In: A ideologia do movimento Escola Sem Partido: 20
autores desmontam o discurso. Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação (Org.). São Paulo:
Ação Educativa, 2016. p. 93-100.

XIMENES, Salomão. O que o direito à educação tem a dizer sobre “escola
sem partido”?. In: A ideologia do movimento Escola Sem Partido: 20 autores desmontam o discurso. Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação (Org.). São Paulo: Ação Educativa, 2016. p. 49-58.


25 comentários:

  1. João Matheus da Silva Cruz9 de abril de 2018 às 02:50

    João Matheus da Silva Cruz

    Primeiramente, prof.ª Janaína obrigado por ser mais um membro da academia que busca elucidar a respeito dessa fantasia chamada de "Escola sem Partido". Em segundo, minhas questões sobre o tema são as seguintes: Ironicamente o próprio Escola sem Partido não se torna, ele mesmo um instrumento de doutrinação daqueles que não possuem o conhecimento necessário, e esse tipo de manipulação pode caracterizar o início de doutrinas fascistas? Desde já, agradeço pelo trabalho apresentado, e pela atenção.

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    1. De certa forma sim, a falácia da "ausência" de partido é na verdade a opção por uma educação neoliberal que está em desacordo com nossos princípios institucionais. Não gosto da palavra doutrinação nem para falar da posição das pessoas do escola sem partido, pois acho que a palavra tem uma peso ligado a religiosidade muito forte, que não deve ser atrelado ao contexto educacional. Contudo, eles querem, sim, promover uma educação tecnicista e acrítica. Sobre as caracterizações de doutrinas fascistas, temos que avaliar alguns aspectos específicos, contudo problematizar temporalmente a questão, Do contrário tudo será apontado como fascista. Mas acredito sim que esse paralelo é válido para várias das características da proposta do Escola Sem partido. Fico feliz que tenha gostado do texto, penso que as ideias do Escola sem partido ainda nos darão bastante dor de cabeça, mas também possibilidades de reafirmar os princípios básicos da educação brasileira, na intenção de combater essas distorções.

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  2. Arnaldo Henrique de Sampaio Santos

    Bom dia. Texto sintético e esclarecedor sobre os pontos da ESP.
    Os assuntos mais delicados e onde normalmente este tema entra em baila dentro da sala de aula é política, gênero e religião.
    Quando professores (as) estão sendo pressionados por este tipo de iniciativa, quais as instância que ele (ou ela) deve recorrer?

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    1. Primeiramente é importante traçar um diálogo com a direção da Escola, trazendo inclusive o texto constitucional e a LDB. Também é importante apresentar as diversas reportagens e decisões do STF que mostram como esse tratamento dado a professores e professores é inconstitucional. Existem vários grupos como "professores pela educação democrática" ou "professores contra o Escola Sem partido que podem ser acionados no caso de acusação de doutrinação. Esses grupos fornecem experiência e apoio aos docentes. Não é uma luta fácil, pois eles judicializam a sala de aula, mas precisamos, também, usar nossa legislação para nos resguardar.

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  3. Boa tarde! Quando a esquerda estava no poder a direita a acusava de doutrinar a educação, e agora a esquerda acusa a direita de doutrinação. Como você vê isso, como nos comportarmos em sala de aula?

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    1. Penso que não se trata de acusar a direita ou a esquerda de doutrinação. São propostas educacionais claras. A nossa educação, tal qual pautada no texto constitucional deve ser múltipla e contribuir para dirimir as desigualdades em nosso país. A proposta do Escola Sem Partido tem como principio uma educação neoliberal proporcionada por um estado mínimo, isso simplesmente não é o que pauta a nossa legislação. Logo, não penso que seja uma questão de nos acusarmos mutuamente, mas sim de compreender qual a educação que precisamos no país e qual a educação que nossa carta magna defende.

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  4. Leonardo Carvalho de Souza

    Olá prof.ª Janaína! Seu texto ajuda a pensar vários elementos acerca do ESP e as posições desse movimento, ao mesmo tempo, mostra que existe respaldo em leis internacionais e nacionais opostas ao ESP. Mesmo assim, tem havido infiltrações desse movimento em espaços amplos, como por exemplo, as discussões de Planos Nacionais de Educação, Conselhos Nacionais e Estaduais da Educação, entre outros. Você pensa que é possível os idealizadores e adeptos do ESP conquistarem modificações significativas nessa legislação mais ampla da educação e dos direitos humanos que você apresenta? Se sim, como?

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    1. Olá, Leonardo. A Nossa legislação básica, a constituição e a LDB, ainda são nossa defesa contra a implementação do Escola sem partido como lei. Isso, contudo, não impede que essas ideias exerçam forças sobre os Planos, bem como sobre as práticas persecutórias que se multiplicam pelo país. Te dou um exemplo: não ter o nome gênero no plano nacional. Isso teve forte influencia do Escola sem partido na Câmara. Mas não ter o termo é diferente de proibir. Proibir não pode porque fere a legislação.Essas leis todas contra a "ideologia de gênero" dos diversos municípios são inconstitucionais.
      Se isso pode se tornar uma realidade, penso que no rumo que estamos, sim. Precisaria de uma mudança na LDB e na Constituição, mas nosso texto constitucional tem sido sistematicamente desrespeitado, então creio que tudo é possível nos próximos 4 anos, a depender dor rumos políticos de nosso país.

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  5. Ivanize Santana Sousa Nascimento9 de abril de 2018 às 20:32

    Boa-noite, professora Janaína! Aplaudo seu texto e a iniciativa da temática. Verdadeiramente, o intuito desta proposta é calar a voz de quem busca educar para além dos muros da escola e da universidade. Não sei como me enquadrar neste contexto,pois,venho de movimentos populares, tenho formação em História e, foi tendo como referencial a vida do povo que o ensino da História ganhou sentido. Implantar esse projeto no país que aos olhos daqueles que sempre foram excluídos, é realmente rasgar, dilacerar e atiçar as bases legais que nos garantem liberdade de expressão numa espécie de "fogueira da inquisição", à exemplo do livro HISTÓRIA CRÍTICA de Mário Schmidt, coleção da antiga 5ª a 8ª séries. Os detentores de direita, do capital, da mídia, acusaram trechos dos fatos históricos de subversivos e doutrinários. Então, vamos aceitar tal imposição ou ir de encontro
    desta situação de ditadura educacional?

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    1. Obrigado pelo retorno. Vamos resistir sempre. desconstruir esse discurso e seguir lutando por uma educação democrática.

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  6. Alexandre Black de Albuquerque10 de abril de 2018 às 09:43

    “Uma das críticas que me parecem mais ofensivas dentro do sítio do Escola Sem Partido, é a idéia de que hoje o ‘politicamente correto’ proíbe a menor menção vexatória à religiões, culturas, raças, e opções sexuais, como se o politicamente correto tivesse um sentido negativo. Como, por exemplo, não fazer uma piada ofensiva ou não ter práticas excludentes fosse uma coisa negativa. Na perspectiva desse grupo você deveria ter a liberdade para poder continuar fazendo piadas sobre negros, homossexuais, mulheres e todos os sujeitos historicamente tratados como minoria nesse país.”
    Ótimo artigo sobre a escola “sem partido”, está claro que essa DOUTRINA está inserida num movimento mais amplo de tentativa de manutenção das desigualdades sociais. Qual a expressão desse movimento entre professores do ensino fundamental e médio? Já há dados sobre isso?
    Alexandre Black de Albuquerque

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    1. Não temos dados numéricos do numero de docentes que apoiam isso. Contudo, acredito que as professoras e professores são, em sua maioria, contrários ao projeto. Procure nas páginas do facebook do "professores por uma educação democrática" lá você terá mais informações sobre os andamentos cotidianos da questão.

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  7. Boa Noite Professora Janaína.
    A pergunta que faço é sobre se essa "Doutrinação" já não existe desde tempos remotos?qual a melhor maneira de levar o Ensino pros alunos de História principalmente, aprenderem pensar por si mesmos sem a interferência desse ou daquele partido, mestre ou seja lá o que for?
    Valmir da Silva Lima

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    1. Não existe uma educação neutra. A influencia sempre ocorrerá, o que devemos fazer é deixar essas escolhas claras para alunas e alunos. Mostrar que existem várias leituras de mundo e que dizer-se neutro é apenas negar o lugar de onde se fala.

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  8. Boa noite! Inicialmente, parabenizo-lhe pelo trabalho, pela reflexão apresentada. O texto traz considerações bastante pertinentes do ESP. O que podemos notar no projeto do ESP parece ser uma tentativa de normatizar/legitimar a censura no ensino/na escola/na educação, exercer um controle sobre o material didático, impor vigilância aos professores no exercício de sua profissão. Observo, que o ESP sob a justificativa de combater a dita “doutrinação das esquerdas”, a ideologização nas escolas, impõe uma doutrinação, uma educação racista, homofóbica, androcêntrica, o que o aproxima muito das políticas e legislações dos governos ditatoriais. Percebo, no entanto, nesse debate, certa centralidade em torno da educação básica, embora o projeto de Lei do ESP também incida sobre o ensino superior, uma vez que "sugere" aplicação desta "Lei" "nas avaliações do ingresso superior, às provas de concurso para ingresso na carreira docente”, enfim, "às instituições de ensino superior" como pode ser lido no Art. 8 do projeto do ESP. Pensando nessas questões, como avalia o enfretamento/mobilização das universidades/dos professores universitários e das escolas/professores da educação básica?
    Eliane Brito Silva.

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    1. Sim, ele se aplica a ambos, mas como na educação básica tratam-se de "menores", a critica a "doutrinação" é maior. A ideia é que essas mentes então sendo deformadas. Nas universidades as ideias do escola sem partido também estão chegando fortemente, participamos de grupos de resistência a esse projeto. penso ser importante fazer debates e mostrar ao alunado a base do projeto ESP e como desta com os princípios básicos da nossa educação.

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  9. Oi Janaína, quais são as expectativas para que esse projeto entre em vigor, com a ascensão de um governo extremamente neoliberal, após derrubarem um governo progressista. Segundo o pensamento de Hannah Arendt podemos pensar que com a extinção das ciências humanas do currículo, priorizando assim apenas a educação técnica, estamos caminhando a coisificação do homem, a transformação do humano em um produto, ou seja, um estado de fascismo. Claramente sabemos que existe um partido por traz desse projeto, minha questão é mais política que educacional. Portanto como você analisa a situação do professor como categoria deve se posicionar quanto a isso, como os sindicatos de professores devem ajudar a derrubar este projeto se esse entrar em vigor.
    Fernando Müller

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  10. Fernando, sua reflexão foi exata. Precisamos atentar para o caráter politico da questão. A estratégia básica do ESP é incitar o ódio ao professor. Devemos nos organizar em grupos e sindicatos para discutir e difundir formas de nos protegermos dessa sanha persecutória. Todos os estados já tem grupos contra o Escola sem Partido, formando redes de combate e principalmente instrumentalizando os docentes a resistência.

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  11. Boa tarde, professora! Obrigada pelo texto. Assim como apontado, vivemos em uma sociedade polarizada, em que boa parte da população se mostra afinada com os ideais neoliberais. Minha preocupação neste caso seria com os futuros professores, atuais alunos de graduação. Existem dados sobre como tem sido a recepção, ou mobilização, de modo geral, por estes alunos?

    Att,
    Rosana Satiko Kikuchi

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  12. Boa noite Professora! Seu texto apresenta questões pertinentes e provoca debates e reflexões. Realmente o ESP é mais uma ameaça ao Estado de Direitos. Além de propor uma Escola Sem Partido, que é a mais uma tentativa de destruir a Escola Democrática, a Escola Cidadã, esse projeto é mais um atentado tanto à Constituição de 1988, quanto à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. Como voce analisa os impactos desse projeto no processo de formação inicial de professores? quais os limites da profissionalização docente frente à ofensiva do Projeto Escola sem Partido? Célia Santana Silva

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  13. Parabéns pela contribuição, Professora Janaína Guimarães. Quando os defensores e propagadores da ESP a justificam como algo contra a "doutrinação" se colocam como se eles fossem isentos. Aprendemos desde sempre que não existe isenção. Existem relações de poder e disputa. E a ESP está em conformidade com a doutrina da ideologia dominante que é a ideologia capitalista na qual estamos imersos. Só que o capitalismo no Brasil avança sempre para traz, para o retrocesso e para a barbárie. Nega a sociedade a construção de uma possibilidade (interrompida quando do golpe) de uma capitalismo de bem estar social que era o que estava sendo implantado pelos governos Lula/Dilma. Assisti ontem trechos de uma entrevista do psicanalista Tales Ab'Saber ao programa Diálogos, com Mário Conti, na Globonews (defensora e propagadora da ESP e de todas as ideias de retrocesso presentes e incitadas pela grande mídia). Nos trechos que pude acessar dessa entrevista de Ab'Saber ele coloca questões extremamente pertinentes à reflexão da cultura política de nossa sociedade. Questões e aspectos de nossa cultura que chegas a ser dramáticas diante da prevalência da negação à construção de uma sociedade menos injusta e menos desigual. E isso não tem que ser necessariamente um sistema diferente do capitalismo, não. Basta lembrarmos de modelos capitalistas como Finlândia, Dinamarca, França, Suíça, Suécia, Alemanha, Inglaterra, por exemplo. Obrigada pela contribuição e parabéns, mais uma vez.
    Rosilene Dias Montenegro.

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  14. Olá Janaína,

    A favor dos críticos ao Projeto Escola Sem Partido, acredito que o projeto parte de uma premissa falsa: é possível existir neutralidade na educação.
    Entretanto, contra o que alegam alguns críticos, não acredito que não haja doutrinação nas escolas, mas que só há doutrinação. Ela é inevitável na medida em que a neutralidade é impossível, i.é, se a neutralidade não pode ser alcançada, tudo o que nos resta é doutrinar. Alguns fazem isso de maneira velada, e às vezes inconsciente, enquanto outros fazem de maneira consciente e ativa.

    Obrigado professora,

    Dean Tarik Silva Araújo

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  17. Pesquisa essencial para compreender os entrames da atual conjuntura social no Brasil. A reflexão de um leitor atento se inicia logo na primeira linha do texto. Já que trata sobre política, educação. Como você percebe a política ecoando por várias direções e afetando tantos aspectos e relações? Nesse sentido o que atualmente a política representa?
    Você apreendeu os estudos do movimento escola sem partido, levantando questões em torno de quem é o responsável por educar a escola ou a família, tem conhecimento de que essa situação não foi natural e sim uma reconfiguração histórica, sobre o público e o privado?
    Cibele da Silva Andrade.

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