Nashla Dahás


ENTRE GOLPES: DITADURA, ENSINO DE HISTÓRIA E TEMPO PRESENTE


Entre março e abril de 2014, quando se completaram 50 anos desde o golpe civil-militar de 1964, trabalhos acadêmicos, disputas de memória e discursos oficiais construíram narrativas múltiplas sobre a ruptura democrática e os tempos autoritários que lhe sucederam. Entre os desdobramentos daquele momento de polifonia está o livro 1964: Do golpe à democracia - organizado por Angela Alonso e Miriam Dolhnikoff -, do qual participaram pesquisadores especialistas no tema e atores políticos do período, apresentando versões para os processos históricos situados entre o governo João Goulart (1961-64), e a entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade brasileira, em dezembro de 2014. Não só as datas e propostas de periodizações acerca desses processos – como, por exemplo, os marcos de início e fim da ditadura ou da transição democrática -, podem confundir estudantes e demais interessadas(os) leigas(os) no assunto. Os vocábulos e sujeitas(o) também se misturam, de maneira que também as fronteiras ideológicas, políticas e psicoemocionais não respeitam fronteiras delimitadas entre passado, presente e futuro.

A referida coletânia 1964... traz o depoimento de Paulo Vannuchi, ministro de Estado e Chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, entre 2005 e 2010, e Presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo e do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura no Brasil. Em junho de 2013, após indicação pelo governo Dilma Rousseff, Vannuchi foi eleito pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos para uma das vagas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, cargo que exerceu até dezembro de 2017. Entre 1969 e 1970, Paulo Vanuchi tornou-se militante ligado à Aliança Libertadora Nacional (ALN), Organização revolucionária criada em 1968 por Carlos Marighella e dissidentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que defendia a necessidade da luta armada para derrubar o regime militar e instalar um governo popular revolucionário. Em dado momento de suas memórias, o político afirma:

“É o momento histórico singular do Brasil: o que ele não conseguiu fazer sobre a escravidão, o que ele não conseguiu fazer sobre o genocídio indígena, sobre Canudos, sobre Contestado, sobre todas as rebeliões e a repressão, o Brasil, hoje, está fazendo sobre a ditadura. É a primeira vez. Então, o significado desse debate ultrapassa muito o problema restrito de responsabilizar individualmente os torturadores e reparar adequadamente as vitimas, como responsabilidade do Estado. É a primeira vez que o país atinge a maturidade de fazer um exame sobre si mesmo, e a comparação que eu não deixo de fazer nunca é a comparação de que a Alemanha estuda Hitler no banco escolar, e ninguém deixa de ser alemão ou de ter orgulho por conta disso”. (VANNUCHI, 2015)

Entre as muitas possibilidades de interpretação e análise do depoimento acima, depreende-se que a história do golpe de 64 tornou-se elemento de interseccionalidade no debate contemporâneo a respeito das violações de direitos humanos cometidas pelo Estado, também denominadas como terrorismo de Estado ou genocídio, dependendo do campo de pesquisa e viés da leitura. Uma das possibilidades de explicar essa relação passa pelo fato de que, no caso do último regime militar, as vitimas extrapolaram o costumeiro campo dos oprimidos pobres, negras(os), indígenas e de trabalhadoras(es) do campo. A ditadura militar não deixou de atingir brutalmente estes grupos, tal como mostra o relatório da CNV (acessível através do portal Memórias Reveladas), mas também produziu vitimas e traumas nas classes médias e setores liberais que seriam agentes fundamentais no processo de transição e reconstrução democrática. Os exilados forçados pelo regime puderam viver a experiência das social-democracias europeias dos anos de 1970 e 80, e, em alguma medida, retornaram como professoras(es) universitárias(os) de carreira, intelectuais, lideranças ligadas a luta internacional pelos direitos humanos, entre outros. Onde elas(es) se encontram com as demandas de outros movimentos históricos, como o movimento negro unificado, ou o de feministas, podemos dizer que se trata de questões de raça, gênero, identidades, memórias silenciadas. Onde esses sujeitos se separam, aparecem os impasses ligados às questões de classe, reconciliação e políticas públicas. 

O aprofundamento dessa discussão, entretanto, ultrapassa em muito nosso propósito, mas, de toda forma, consideramos essencial esboçar esse quadro para compreender a dimensão da necessidade de se discutir o golpe e a ditadura como parte da formação cidadã no Brasil.

Nessas circunstâncias, pretendemos apresentar um panorama crítico da historiografia a respeito do golpe de 1964, entendida como proposta de ensino, menos no âmbito escolar e-ou acadêmico, e mais voltada para a compreensão geral das principais questões que permeiam o tema, hoje. Ou seja, a partir do tempo presente e das implicações políticas que a discussão pública dos termos golpe e tortura adquiriram desde 2014 e, especialmente, após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff em agosto de 2016. Como se sabe, analogias entre o referido processo de impeachment – interpretado não apenas como golpe civil-militar, mas também parlamentar-judicial-midiático, levaram a uma nova onda de produções acadêmicas e memorialísticas sobre a última vez em que o pacto democrático foi violado.

Roteiro historiográfico e debate público
A primeira pesquisa mais sistemática a contemplar a crise política que antecedeu o golpe civil-militar de 1964 no Brasil veio de um “brasilianista”. O historiador norte-americano Thomas Skidmore publicou, em 1966, Brasil: de Getúlio a Castello, ainda hoje, livro importante no que se refere à cronologia dos fatos em vários campos como a política, a economia e o governo. Contudo, a continuidade dos estudos, a progressiva descoberta e variação de fontes, assim como as inovações teórico-metodológicas da disciplina histórica complexificaram a percepção daqueles acontecimentos.

Outra interpretação do período resultou na tese de Octávio Ianni publicada sob o título: O colapso do populismo no Brasil. A expressão designaria uma fusão entre a manipulação política e a autonomização das massas, que, no contexto da passagem da sociedade tradicional para a sociedade moderna, demandaria maior participação política, o que, por sua vez, resultaria em soluções radicais como os golpes militares. Dessa forma o golpe civil-militar de 1964 corresponderia ao colapso desse suposto padrão político conhecido como “populismo”. No entanto, o caráter genérico do conceito rendeu muitas críticas ao autor. Atualmente, após a chamada “onda rosa” de governos de esquerda na América Latina, os sentidos do populismo como forma de governabilidade voltaram ao centro dos debates acadêmicos, bem como do vocabulário e da agenda política.

Um trabalho que merece destaque em qualquer discussão sobre as versões para o golpe de 1964 é o do cientista político uruguaio, também formado em história, René Armand Dreifuss, cuja tese de doutorado se transformou no livro: 1964: A conquista o Estado. Ação política, poder e golpe de classe. Publicado em 1981, o trabalho ressalta a interferência de agentes internos, sobretudo, o domínio do capital multinacional, na economia e na política brasileiras. A ideia central é a seguinte: para contrapor-se ao crescimento da força política de tipo populista da burguesia tradicional e de setores oligárquicos, representantes do capital multinacional e associado teriam atuado em bloco na organização de grupos de pressão e federações profissionais de classe, escritórios técnicos e anéis burocrático-empresariais, para conseguir que seus interesses ganhassem maior expressão no governo. Para o autor, o complexo IPES / IBAD funcionou como um estado maior da burguesia multinacional associada que, através de uma ação planejada e calculada, chegou a poder. Esta ação ideológica, entretanto, não foi suficiente para levar a uma troca de regime. Por isso, foi preciso ainda, que se construísse uma rede de apoio dentro das Forças Armadas, razão pela qual, alguns dos mais destacados associados ao IPES e ao IBAD tornaram-se oficiais influentes após o golpe.

Dreiffus iniciou, na prática, o projeto intelectual elaborado mais recentemente, de nomear os agentes civis que apoiaram o golpe militar, razão para a utilização do termo golpe civil-militar predominante na historiografia brasileira desde pelos menos o ano de 2010. Apesar disso, a obra ficou mais conhecida e também foi mais duramente criticada por seu caráter de classe que, segundo historiadores críticos da vertente marxista de interpretação do golpe, tendeu a tratar a burguesia e as classes médias como grupos homogêneos que recebiam passivamente as mensagens ideológicas do complexo IPES / IBAD.

Ainda em fins da década de 1980 surgiu o trabalho de Argelina Figueiredo intitulado Democracia ou reformas?. Em sintonia com o movimento de renovação da história política e, sobretudo, da crise do estruturalismo como paradigma epistemológico que mobilizou parte importante da intelectualidade europeia entre os anos de 1960 e 70, a autora critica a inevitabilidade do golpe a partir da consideração de condições supostamente suficientes, como os fatores econômicos, políticos ou institucionais. Igualmente, nega a centralidade do papel do empresariado, ou da burguesia na conspiração analisada por Dreiffuss e busca mostrar como a simples existência de uma conspiração não bastaria para a eclosão do golpe. Cientista política, Argelina Figueiredo enfatiza a sucessão de opções políticas dos grupos de poder, sobretudo, aquelas tomadas pelo próprio presidente João Goulart, que apontariam em direção à radicalização, minando definitivamente a possibilidade de acordos políticos. Ou seja, para a autora, democracia e reformas políticas tornaram-se incompatíveis em razão da inabilidade ou intransigência dos grupos à esquerda no poder.

Quase trinta anos depois, a tese de Argelina tornou-se refém de suas próprias críticas referentes ao determinismo histórico e ao anacronismo, uma vez que o conceito de democracia, assim como o individualismo metodológico utilizado em sua análise da política brasileira nos anos 60 e 70, eram categorias bastante peculiares aos anos 80 e 90. Ou seja, parte da historiografia contemporânea pondera que Argelina projetou características e percepções próprias ao seu próprio tempo no passado analisado em sua pesquisa.

Trabalho bastante reconhecido pela historiografia é o de Daniel Aarão Reis Filho: Ditadura Militar, esquerdas e sociedade, publicado no ano 2000. Neste pequeno livro, o autor conseguiu condensar uma série de ideias que lhe renderiam alguma fama, muitas críticas e novas publicações; além de uma rede de pesquisadores e orientandos dispostos a aprofundar seus pressupostos. Ex-militante da esquerda revolucionária à época do golpe e da repressão que o sucedeu, o historiador atribuiu o êxito da ruptura democrática sem resistência ao amplo e heterogêneo caráter da frente social e política que se uniu para derrubar João Goulart, incluindo setores civis e militares. É, inclusive, tributária do estudo de Daniel Aarão a expressão golpe civil-militar já mencionada. Segundo o autor, eram banqueiros, empresários, industriais, latifundiários, comerciantes, políticos, magistrados e as classes médias, além de partes significativas das Forças Armadas, todos demonstrando clara aversão ao protagonismo crescente das classes trabalhadoras na história republicana brasileira depois de 1945.

A crítica mais recente ao trabalho de Daniel Aarão surgiu em 2004 por ocasião do aniversário de 40 anos do golpe, quando o termo “revisionismo” foi cunhado por Caio Navarro de Toledo em artigo intitulado “1964: golpismo e democracia. As falácias do revisionismo”, e logo incorporado por autores considerados mais jovens na pesquisa histórica do tema como Demian Bezerra de Melo. Nessa ocasião questionou-se a ideia da “responsabilidade compartilhada”, no sentido de que ela acabava por negar a complexidade inerente ao processo político da década de 1960 e atribuía a “toda sociedade brasileira” o seu quinhão de culpa na promoção e legitimidade da ditadura militar. Da mesma forma, a formação da coalizão favorável ao golpe, sua composição, atuação e argumentação, a responsabilidade ou vitimização das esquerdas no processo histórico e na construção de sua memória, e os marcos cronológicos do regime de exceção são temas que, embora bastante debatidos, não estão esgotados e provocam, ainda hoje e cada vez mais, profundas controvérsias.

Um autor que também se destacou e se consagrou na historiografia do golpe até o momento é Carlos Fico. Tratando, em especial, da participação norte-americana na destituição de Goulart, em Além do golpe: a tomada do poder em 31 de março de 1964 (2004), o historiador deixa clara uma leitura do período que enfatiza o fato de que, no golpe, propriamente, sobressaiu o papel dos militares. De acordo com o Fico, além das movimentações de tropas, desde o início do regime foi indiscutível a preponderância dos militares, embora a realização do ato não fosse possível em detrimento das lideranças golpistas civis. Segundo o autor, os militares foram essenciais na deflagração do golpe, mas parece ser uma leitura equivocada pensar a iniciativa militar fora de todo o conjunto de relações que estabeleceu com diversos outros grupos para que o golpe tivesse êxito, ou mesmo para que se passasse da articulação à prática. Assim, Fico tem utilizado a denominação golpe civil-militar, mantendo, porém, a ditadura militar, a fim de marcar posição a respeito dos ‘núcleos duros’ do poder a partir de 64, nas mãos e mentes de militares. 

Carlos Fico também destaca e oferece ao leitor um conjunto de fontes inéditas sobre a questão das pressões norte-americanas sobre o governo e o repasse de recursos destas às autoridades brasileiras favoráveis ao golpe. Aponta ainda para a necessidade de se estabelecer relações de causalidade entre elementos diversos, articulando aspectos macroestruturais como dados necessários à explicação do golpe. Eis alguns exemplos desses elementos: as demandas do capital internacional e as decorrências sócio-políticas de tais demandas, a luta política organizada de empresários e os padrões de funcionamento das instituições, os impasses do sistema político e os comportamentos e as leituras de agentes históricos singulares como, por exemplo, a percepção de caos e de quebra da disciplina e da hierarquia pelos militares.

Poderíamos citar ainda autores como Maria Celina D’Araújo, autora de Sindicatos, carisma e poder: o PTB de 1945 a 1965, e Marcos Napolitano, com seu 1964: história do regime militar brasileiro, entre outros e outras responsáveis pelo crescimento e sofisticação desse campo de pesquisas. Nosso objetivo, entretanto, consistiu em apontar bibliografia básica que permita a professoras(es), estudantes e interessadas(os) compreender as várias versões existentes sobre o golpe de 64, e, especialmente, como suas questões repercutem e integram a história do tempo presente, alimentando política e ideologicamente as forças e agentes do nosso tempo.

Esperamos, com isso, contribuir para a difusão do conteúdo histórico, ampliando as possibilidades de um exercício relacional entre as diferentes temporalidades que zele pelas contradições, impasses e expectativas próprias ao passado e ao presente. Para que a interlocução com públicos mais amplos não dependa exclusivamente dos conglomerados midiáticos e, enfim, para que o tempo atual se afirme cada vez mais como um campo histórico passível de ser compreendido e analisado em suas fissuras e incompletudes.

Referências
Nashla Dahás, Pós-doutoranda e professora colaboradora do PPGH-UDESC.

ALONSO, Angela (Org). 1964: do golpe à democracia. São Paulo: Hedra, 2015.

D’ARAUJO, Maria Celina de. Sindicatos, carisma e poder: o PTB de 1945 a 1965. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1996.

DINES, Alberto. Os idos de março e a queda em abril. Rio de Janeiro: José Alvaro Ed., 1964.

DREIFFUS, René A. 1964: a conquista do Estado – Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis: Vozes, 1981.

FERREIRA, Marieta de Moraes. João Goulart: entre a memória e a história. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.        

FICO, Carlos. Além do golpe. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2004.

FIGUEIREDO, A. M. C. Democracia ou reformas? Alternativas democráticas à crise política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

GOMES, Ângela de Castro. Uma breve história do PTB. Rio de Janeiro: CPDOC, 2002. Trabalho apresentado na palestra do I curso de formação e capacitação política, realizado na sede do PTB. São Paulo, 13 de julho de 2002.

IANNI, Octavio. O colapso do populismo no Brasil. Rio de janeiro: Civilização brasileira, 1975.

MELO, Demian Bezerra de. O Plebiscito de 1963: inflexão de forças na crise orgânica dos anos 60. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Departamento de História. 2009. 227fl.

MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. O governo João Goulart: as lutas sociais no Brasil (1961-1964). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. O anticomunismo militar. In: 1964-2004: 40 anos do golpe: ditadura militar e resistência no Brasil. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2004.

NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.

REIS FILHO, D. A. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000, v. 1.

RÉMOND, René (org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996.

SKIDMORE, Thomas. Brasil: De Getúlio a Castelo Branco (1930-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

TOLEDO, C. N. 1964: golpismo e a democracia. As falácias do revisionismo. Crítica Marxista, n.19, p.27-48, 2004.



27 comentários:

  1. Dentro dessa perspectiva do(s) golpe(s), tanto o de 1964 quanto o de 2016, o que nos surpreende, mesmo considerando os contextos históricos, é uma certa repetição dos fatos. As obras citadas aqui na apresentação são referenciais de máxima importância para entendermos a ditadura de 1964, além dos recentes relatórios apresentados pelas Comissões da Verdade.
    A pergunta que nos cabe é, como no tempo presente, vimos indivíduos de diferentes gerações clamando por uma intervenção militar? Seria este um problema plantado no ensino de História, que logo após a reabertura política ressentiu-se e recuou ao invés de avançar e trazer à tona os horrores da ditadura?
    Cláudia Cristina do Lago Borges

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  2. Lendo seu artigo me veio em mente o artigo mais recente de Carlos Fico denominado “Ditadura militar brasileira: aproximações teóricas e historiográficas”, que discute teoricamente alguns pontos de vista colocados por autores citados no texto e que se consagraram como pesquisadores do período da ditadura civil-militar. Gostaria de saber da autora seu próprio entendimento da expressão ditadura civil-militar, pois em minhas pesquisas gosto de usar esse termo, pois acredito que abarca os diferentes sujeitos históricos envolvidos no golpe de 1964.
    Eduardo Norcia Scarfoni

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    1. Olá Eduardo, obrigada pela questão.
      Sem dúvida, a referida nomenclatura tem sido bastante debatida pela historiografia desde, ao menos, 2010. As dificuldades relacionadas ao acesso às fontes, assim como o poder de enunciação que deteve o regime militar ao longo dos vinte anos de ditadura, se desdobraram em produções contra-narrativas, de contra-poder, em democracia, de forma que parte das esquerdas encontraram no campo da memória e da história espaço para suas versões. Essa produção se dedicou, sobretudo, às próprias esquerdas e suas e seus atores envolvidos naquele processo histórico, de maneira que as direitas ainda hoje são menos estudadas. Em parte, esse 'problema' começou a ser denunciado por Daniel Aarão Reis, que colocou a questão do apoio social, civil, de vários setores, ao golpe de 1964. A partir de então, surgiram pesquisas relacionadas ao apoio da grande imprensa, de parte da Igreja Católica, de grupos de classes médias, entre outros, à ruptura democrática. Vale dizer que o apoio ao golpe e o financiamento da desestabilização do governo Goulart eram conhecidos desde a publicação de '1964: A conquista do Estado', de René Dreifuss. Carlos Fico, entretanto, justifica a utilização do termo golpe civil-militar não apenas em razão do apoio ao golpe, mas o autor afirma que grupos civis articularam e 'deram o golpe', junto aos militares. Eram setores golpistas em 64, ainda que tenham mudado de comportamento ao longo do regime. O fato é que o termo golpe civil-militar tornou-se ponto pacífico na historiografia até recentemente, quando a atuação política dos militares voltou ao centro do debate público. Em tal ocasião, questionou-se se o compartilhamento das responsabilidades com civis não havia diluído demasiadamente o peso do poder militar na política brasileira. Já o termo ditadura civil-militar surgiu ao longo da discussão a respeito do golpe e vem sendo utilizado também por força retórica, para demarcar uma zona de continuidades entre autoritarismo e democracia; em especial, no que diz respeito a atuação das polícias militares após 1985. Contudo, na historiografia, seu uso ainda é bastante debatido, de maneira que parece prevalecer a ideia de que a ditadura, embora contasse com apoio de diferentes grupos sociais ao longo das suas duas décadas, foi eminentemente militar, uma vez que os processos e cargos decisórios estiveram nas mãos das altas hierarquias da caserna. Compartilho desse vertente, considerando ainda que a nomenclatura militar não pode ser excludente: militares, como outros poderes (mídia, Igreja, empresariado, etc.) estão inseridos socialmente, somente passíveis de análises relacionais.
      Um abraço,
      Nashla Dahás

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  3. Olá Claudia. Obrigada pelas questões que você traz para discutirmos. Mais do que repetição, me parece, há uma disputa narrativa, ao menos desde 2013, que vem produzindo analogias entre o tempo presente e o golpe e a ditadura iniciada em 1964. Estas versões fazem sentido aos expectadores justamente porque parte das e dos atores históricos são as e os mesmos, ou encarnam continuidades de tradições, famílias ou ideias relacionadas ao período anterior. Também no que diz respeito às violações praticadas pelo Estado, além de certas formas de violência institucional, as continuidades são evidentes. Essa imagem endossa ainda, a ideia de alguns especialistas de que estamos vivendo o esgotamento de um ciclo histórico. Quanto aos pedidos de intervenções militares, você está certíssima. Há um problema no sistema de ensino brasileiro relacionado à produção de consciência histórica, e também de cidadania e cultura democrática. Por outro lado, sabemos que há pessoas e grupos formalmente muitíssimo instruídas e instruídos, e que, ainda assim, endossam a ideia de que os embates e impasses sociais são uma guerra e devem ser resolvidos com a eliminação dos supostos inimigos. Em parte, atribui-se esse tipo de visão a uma forte cultura autoritária essencialmente de mentalidade escravocrata no nosso país.
    O processo de redemocratização foi muitíssimo condicionado pela atuação e poder dos militares, e também de forças civis consideradas liberais e-ou conservadoras, entre outros grupos com menor influência. Esse contexto resultou na ausência de políticas de memória, entre outras maneiras de lidar com as violações e traumas do passado recente. Apenas depois de uma década, em 1995, houve a primeira iniciativa nessa direção, com a Lei de Mortos e Desaparecidos. A CNV só encontrou condições políticas e sociais de estabelecimento há pouco e obteve, como se sabe, resultados muito limitados. Isso posto, temos que a ditadura é hoje um tema fundamental para compreensão da história do Brasil de hoje.
    Um abraço,
    Nashla Dahás

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  4. Boa tarde! A destituicao de Dilma Rousseff da Presidencia nos remete à 1964. Como podemos fazer essa comparação em sala de aula? Como podemos tratar desse assunto tao recente?

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    1. Olá Benedito, boa noite! Um bom caminho para compreensão de sua primeira questão consiste em tentarmos entender o pressuposto da colocação. Ou seja: por que a destituição de Dilma nos remete a 64? A partir disso, será mais fácil estabelecer analogias entre os dois processos históricos.
      Em sala de aula, você pode utilizar as ferramentas da História do Tempo Presente para fazer essa análise. Por exemplo, a questão da memória de 64 é fundamental para entendendermos capítulos fundamentais, como o voto ultrajante de Jair Bolsonaro em favor do impeachment, em 2016. Você também pode propor uma discussão sobre a questão de gênero envolvida no processo, a partir da imprensa como fonte. Ou ainda, elaborar uma narrativa histórica com destaque para o processo de transição democrática e o tipo de governabilidade fundante de nossa democracia e da Constituição de 1988.
      Espero ter ajudado. Coloco-me à disposição para continuarmos esta discussão.
      Um abraço,
      Nashla Dahás

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  5. Boa noite Drª Nashla Dahás e demais participantes do debate, texto bastante elucidativo e ao mesmo tempo bem reflexivo, nos faz pensar em quais legados o golpe cívico-militar de 1964, bem como a ditadura, deixou para a política e sociedade brasileira, parte da historiografia nacional nos mostra um período conturbado, com inúmeras perseguições políticas, censuras e centenas de mortes e desaparecimentos, contudo, em partes dessa historiografia acabam omitindo alguns acertos, tais como, os avanços tecnológicos nas áreas petrolíferas, nuclear, elétrica, comunicações e pesquisas, além das melhorias para os trabalhadores, FGTS, PIS, PASEP e FUNRURAL, não quero tirar a culpabilidade do regime militar em suas ações desastrosas relacionadas à sociedade e a democracia através de minhas palavras e muito menos afirmar que eles tentaram fazer o Brasil progredir. Mas acredito que houve uma grande falha no trato político à época concernente a oposição, deveria se aberto debate entre lideranças à bem da sociedade, de forma que não houvesse um embate armado entre cidadãos brasileiros, à imposição política no passado gerou implicações políticas hoje no Brasil, posso citar, por exemplo, as intolerâncias ideológicas e partidárias desde o impeachment de Dilma Rousseff. Nesse contexto citado, gostaria de fazer a seguinte pergunta: O regime militar errou na forma de conduzir a fase de transição para o regime democrático, não pontuando ou não permitindo pontuações políticas, na qual influenciou a democracia que hoje vemos no atual Brasil, espelhada nos Três Poderes?
    (Obs: Exclui o comentário acima, pois esqueci de assiná-lo, peço desculpas e agradeço a compreensão).

    Alexandre Leite Rosa

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    1. Olá Alexandre, boa noite.
      Ao que me parece, o regime militar foi muitíssimo bem sucedido em sua capacidade de gerir a transição da ditadura à democracia. Isto, porque todas as prioridades do último governo autoritário foram 'atendidas': anistia para todos os agentes do Estado envolvidos em violações de direitos humanos, eleições presidenciais indiretas, manutenção dos dispositivos relacionados a segurança pública, da Constiuição ditatorial de 1967, na Constituição democrática de 88. Além, claro, da ausência completa de políticas de memória, reparação e verdade pela década que seguiu à transição. Todos esses elementos influenciaram o tipo de democracia, de sociedade, e de política que realizamos nos últimos 30 anos. Um exemplo muito evidente apontado também pelo Relatório da Comissão Nacional da Verdade (2014), é a continuidade das práticas ditatoriais de tortura e desaparecimento pelas polícias militares.
      Um abraço, e obrigada pela questão proposta,
      Nashla Dahás

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    2. Boa tarde Nashla Dahás, muito obrigado por sua resposta e estou certo de que enriqueceu ainda mais esse debate.
      Um forte abraço.

      Alexandre Leite Rosa

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  6. Olá, Nashla Dahás, parabéns pelo texto. Bem escrito, elucidativo e extremamente oportuno.

    Logo no início você menciona o depoimento de Paulo Vannuchi, ao tratar da responsabilização do Estado brasilerio no tocante aos crimes da ditadura. Num primeiro olhar, parece qua a sociedade brasileira está mais madura e assentada firmemente nos valores democráticos. No entanto, sempre me indago se isso é verdade. Baseio-me, para tal ceticismo, na nossa tradição autoritária, a qual persiste em nos seguir. Penso em exemplos cotidianos de violência e de valorização do ódio, da tortura e do preconceito nosso de cada dia. Ainda temos muito de racismo, de misoginia, de machismo, e aceitamos a desigualdade social como algo normal. São episódios lamentáveis que se relacionam com a ditadura e que ainda estão fortemente presentes em nossa sociedade. Ademais, a extrema direita tem ganhado cada vez mais destaque, inclusive dentre uma fatia considerável do eleitorado brasileiro.

    A partir disso, pergunto-lhe: Dado o aumento do autoritarismo e do reacionarismo recente, e até mesmo a defesa de muitos brasileiros por um modelo político a semelhança da ditadura, em que nós, profissionais e professoes de Humanas, estamos errando no nosso trabalho em sala de aula? O que podemos fazer para reverter esse quadro e fazer valer os preceitos democráticos já na formação básica dos nossos alunos?

    Um abraço,
    Walace Ferreira.

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    1. Bom dia Walace, obrigada pela pergunta. Em primeiro lugar, é preciso salientar que o depoimento utilizado em meu texto é uma versão entre outras possíveis para a história da transição democrática e para os governos Lula e Dilma. Não se trata de uma questão pacífica entre as vitimas da ditadura, nem entre os movimentos de luta pelo paradeiro dos mortos e desaparecidos no período autoritário.
      Há muitos caminhos para explicar isso que você chama de aumento do reacionarismo, desde uma reconfiguração do capitalismo nos últimos 30 anos, até o esgotamento de um ciclo histórico brasileiro ligado ao pacto transicional, passando pela ideia de que o autoritarismo - como você mesmo afirma -, não é uma questão recente no Brasil, mas um problema institucional e uma mentalidade fundamentalmente das elites, mas também profundamente enraizada no seio da sociedade e que remete a nossa formação social e histórica escravocrata. Eu não saberia dizer se, individualmente, estamos errando em sala de aula, mas, de fato, podemos e devemos insistir em uma educação que problematize o racismo, o autoritarismo, o machismo e as desigualdades sociais no Brasil. No que diz respeito à ditadura militar, é preciso criar consciência histórica a respeito dos sentidos do golpe civil-militar de 1964 e da ditadura. Por esta razão, o artigo desta página sugere uma bibliografia básica sobre o assunto. Cultura democrática apenas se constroi agindo e pensando democraticamente em todas as nossas esferas de atuação.
      Não sei se te respondi satisfatoriamente, e me coloco à disposição para continuarmos essa discussão.
      Um abraço,
      Nashla Dahás

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    2. Respondeu e esclareceu bastante, Nashla. Vou procurar a bibliofrafia do seu texto. Se não for um pedido descabido, você poderia me enviar seu artigo para eu trabalhá-lo em sala de aula nas minhas turmas de licenciatura? Se puder, meu e-mail é walaceuerj@yahoo.com.br. Muito grato desde já.

      Abraço,
      Walace Ferreira.

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  7. Maria Fernanda Magalhães Scelza10 de abril de 2018 às 16:39

    Boa noite, Profa. Nashla.

    É com muita satisfação que leio seu artigo. Como professora do Ensino Básico, tenho tido muita dificuldade nos últimos anos de abordar os "anos de chumbo" em sala de aula, sobretudo por conta do movimento Escola Sem Partido. A saída encontrada é analisar os impactos e as permanências das práticas ditatoriais na atualidade, inclusive a partir do olhar sobre a memória.

    A partir dessa abordagem, de que maneira é possível discutir com alunos do ensino fundamental II (9° ano) a importância, bem como as contribuições da Comissão Nacional da Verdade (CNV)?

    Mais uma vez, parabéns pelo texto.

    Maria Fernanda Magalhães Scelza

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    1. Olá Maria Fernanda, boa noite. Agradeço por sua pergunta. O recurso à memória em sala de aula é sempre muito proveitoso, porque, entre outras razões, insere a(o) aluna(o), na comunidade e na sociedade que a(o) cerca, além de tornar a história mais viva e cambiante. Nesta estapa do ensino, alguns cuidados são necessários, como a diferenciação entre memória e história, a contextualização dos depoimentos e a clareza sobre a noção de fonte histórica. Esses elementos tornam o diálogo com os sentidos da CNV um tanto mais simples. Ainda não há uma bibliografia estabelecida sobre a Comissão, mas sugiro que você procure os trabalhos da historiadora Caroline Bauer. Ela possui um ótimo blog no qual disponibiliza planos de aula sobre assuntos relacionados à ditadura de 1964. Para se alimentar de ferramentas de pensamento e imaginação que permitam a discussão do tema, também indico o recente livro de Edson Teles; se não me engano, chama-se 'O abismo na história'. Feito isso, você poderá selecionar auditivas da CNV, ou das Caravanas da Verdade, em especial, aquela em que o então Diretor da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, pede perdão às vitimas da ditadura em nome do Estado brasileiro. A aula pode começar, inclusive, com notícias de jornais sobre o caso Amarildo e, a seguir, você poderá introduzir as ideias de continuidade e mudança históricas, mostrando como ocorriam as violações em tempos de ditadura, e como ocorrem em democracia. Considero importante também, demarcar um limite moral a respeito do que é política e de suas possibilidades relacionadas às punições e liberdades em um Estado de Direito.
      Espero tê-la ajudado, e me coloco à disposição.
      Um grande abraço,
      Nashla

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    2. Maria Fernanda Magalhães Scelza13 de abril de 2018 às 04:37

      Muito obrigada, Profa. Nashla. Vou pesquisar já as indicações feitas.
      Abraços, Maria Fernanda

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  8. Olá, Nashla Dahás, dentro das diversas perspectivas abordadas neste texto, juntamente com a necessidade crescente de se discutir o tema devido aos constantes golpes que vamos sofrendo, gostaria de saber o que poderia ser mais efetivo: intensificar os esforços para desmistificação da ditadura, ou romper com ideal que se estabeleceu pós guerra do Paraguai, de um exercito que tem como missão a salvação da pátria?
    Érika Luanna da Mota Alcântara

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    1. Olá Érika, obrigada pela pergunta. Considero que os esforços mencionados por ti não são excludentes. Pelo contrário, eles se complementam. A história da construção dos Exércitos tal como conhecemos está relacionada à formação dos Estados Nacionais (a Guerra do Paraguai é um dos capítulos desse processo no Brasil), e, portanto, à difusão dos nacionalismos, defesa de fronteiras, mas também normatividade de comportamentos e sentimentos internamente, a começar pela ideia de pátria. As fronteiras e sentimentos nacionais estão no centro da política durante a Guerra Fria, cuja disputa ideológica é fundamental para compreendermos as ditaduras latino-americanas dos anos 1960 e 70.
      É fundamental tratar a história de um ponto de vista global e interseccional (articulando classe, gênero e raça como categorias de análise atravessadas), e não apenas globalizado, como ocorre a partir da segunda metade do século XX.
      Um abraço,
      Nashla

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  9. Boa Noite Profa Nashla. Analisando os escritos de René Armand Dreyfuss e da Cientista Política Argelina Figueiredo, ambos contraditórios, como se deveria trabalhar em sala de aula pras Gerações Futuras essa Questão do Golpe? Dreyfuss escreveu que Organizações Multinacionais exerceram pressão pra que ocorresse o Golpe, enquanto Argelina escreveu que o Golpe era inevitável devido a já não haver mais Democracia no Governo João Goulart.
    Fazendo um comparativo entre o Golpe Militar de 64 e o Impeachment da Presidente Dilma, devemos considerar como Golpe também quando apresentar o conteúdo aos alunos?
    Valmir da Silva Lima.

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  10. Olá Valmir, obrigada pela questão. São muitas as narrativas sobre o golpe de 64, estas que você cita são apenas duas. O importante em sala de aula, é construir e compreender a própria ideia de narrativa, e não de verdade. Desta maneira, você poderá explorar em sala de aula um universo aberto de versões e fontes. É preciso ainda ter o cuidado de estabelecer limites morais quando se trata de abordar violações de direitos humanos. Talvez, você possa aproveitar a resposta acima, para a pergunta feita por Maria Fernanda Magalhães. Veja o que acha e me diga, tudo bem?
    Quanto ao golpe de 2016, novamente, será preciso tratar de uma disputa narrativa ainda em curso sobre o evento. Voce terá de explicar porque os diversos atores estao nomeando o impeachment como golpe, cada qual com suas razões e motivações. Os pressupostos teóricos e metodológicos da História do Tempo Presente podem ajudar.
    Textos elucidativos sobre o uso da HTP em sala de aula tem sido publicados pelo corpo docente da UDESC-Florianópolis, cujo Programa de Pós-Gradução segue linha de pesquisa sobre o tema.
    Espero tê-lo ajudado, e me coloco à disposição.
    Um abraço,
    Nashla

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    1. Professora Obrigado pelas respostas e indicações!
      Mesmo assim com todo o material apresentado, ainda fica a questão que não sei se é deixada pros alunos pesquisarem ou não.
      Golpe ou Revolução?
      Valmir da silva Lima.

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  11. Boa noite, Nashla. Ótimas reflexões. Em tempos de golpismo é necessário aprofundarmos o debate teórico sobre tais processos que fazem parte de nossa história. Todavia, pergunto-me: a sala de aula não está longe de ser a única ferramenta e maneira em que o/a estudante obtém informação, sendo, pois, apenas "mais um local" de ensino aprendizado. Estamos inserido no contexto do boom digital, em que a informação é muito rápida e, às vezes, tendencioso. Como competir, por exemplo, com canais de Nando Moura ou "mamãefalei" que são potenciais difusores de ideais sem base teórica?

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  12. Olá Nashla! Parabéns pelo seu texto! Gostaria apenas de questioná-la sobre alguns aspectos da sua pesquisa no que se refere a quando você afirma ser quase uma "revolução" o fato de se estudar a Ditadura e revisar este passado na contemporaneidade de 2014, como se escrever e dialogar sobre esta memória mudasse rumos, ou consciências, etc. Discordo em partes desta noção. Esta ideia vai sendo perpetuada no decorrer do teu texto na medida em que vai mostrando, em ordem cronológica, uma superação da pesquisa acerca da ditadura, como se a cada período houvesse uma melhoria, seguida de uma melhoria, causada pela crítica da crítica. Me pergunto (e dirijo esta pergunta para você): onde está a superação? Me parece muito mais que há uma assimetria (conceito Latourniano) de discussões, uns discutem aspecto A outros B outros C. A leitura foi ótima! Parabéns!

    Rafael Dalyson dos Santos Souaz

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  13. Olá Nashla. Quando o País se direcionava para a democracia, depois de longos 21 anos sob regime militar, o ato mais marcante foi a campanha das DIRETAS JÁ, onde milhares de jovens, de caras pintadas, saíram as ruas com suas bandeiras erguidas clamando pela liberdade de votar. Hoje me parece que os jovens estão desinteressados ao que acontece em nosso País. Achas que isso é falta de informação nas salas de aula ou é a geração de hoje que não se importa com os acontecimentos graves que o Brasil está atravessando?

    VÂNIA FARIAS FERREIRA

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  14. Nashla Dahás parabéns pelo texto e pela ótima reflexão.
    Como seu texto faz uma análise da historiografia a partir de 1964 e dá um destaque ao golpe parlamentar-judicial-midiático de 2016, gostaria que você analisasse também o impeachment do presidente Collor de Melo, muito embora ele tenha renunciado alguns minutos antes do Legislativo iniciar e concretizar a votação do seu impedimento. Na sua opinião, aquela situação também pode ser considerada um golpe, ou não? Gostaria também de ter a sua opinião na forma de como abordar e discutir esse tema, do impeachment de Collor, no ensino de História.
    Luiza Helena Santos Duarte Lemos

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  15. Olá, Nashla!
    Inicio minha crítica parabenizando pelo texto!
    Quando comecei a ler sua narrativa me veio logo a memória, os livros 1964, do Jorge Ferreira e pela Angela de Castro, além de o primeiro volume de História e Memória das Ditaduras do século XX, da Denise Rolemberg.
    Bom, serei bem rápida em meu questionamento: alguns professores da educação básica em suas monografias pesquisaram o golpe civil-militar e o regime militar brasileiro, mas não conseguem passar seus conhecimentos a cerca do período para nossos jovens devido a n motivos. Mas para você, o que pensa em relação a isto? Devemos mostrar nossas pesquisas em sala de aula para nossos jovens do ensino fundamental e médio ou não? E como podemos fazer essa interligação entre o ensino e nossas pesquisas?
    Finalizo parabenizando-a, novamente!

    Alessandra Lima dos Santos

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